Reforma ministerial, crise com PMDB e palanques regionais são discutidos por Lula e Dilma com staff da campanha à reeleição
Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro
BRASÍLIA – Passada a folia do carnaval, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltaram à realidade em reunião no Palácio da Alvorada com o staff da campanha ao Planalto. Uma reforma ministerial paralisada, uma crise com o PMDB mais forte do que nunca, impasses nos palanques eleitorais e as negociações para que integrantes do governo deixem a máquina para assumir funções na corrida eleitoral foram os principais pontos do encontro, que contou ainda com as presenças do chefe da Casa Civil, ministro Aloizio Mercadante; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; o chefe de gabinete Gilles Azevedo e o ex-ministro da Comunicação de Lula, Franklin Martins.
Falcão, inclusive, é um dos protagonistas da nova crise com o PMDB, principal aliado do PT no plano nacional. No domingo, durante o desfile das escolas de samba no Sambódromo, no Rio, Falcão afirmou que as declarações dadas pelo presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, de que o partido apoiaria a pré-candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB), decorriam de uma insatisfação pela demora da presidente Dilma em concluir a reforma ministerial.
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) não gostou das palavras de Falcão. Acusou o petista de sempre atrapalhar as negociações por onde passa e ameaçou apoiar o desembarque do PMDB nacional da aliança com Dilma Rousseff. Ontem, o presidente nacional do PMDB tentou jogar água na fervura. “O partido é aliado de primeira hora da presidente. Temos o vice-presidente da República (Michel Temer), o presidente da Câmara (Henrique Eduardo Alves), o presidente do Senado (Renan Calheiros), maior bancada no Senado, a segunda bancada da Câmara. Mas essa (a reforma ministerial) é uma decisão única e exclusiva da presidente da República”, afirmou o senador Valdir Raupp (RO).
Ele também minimizou o bate-boca indireto entre Cunha e Falcão. “Troca de farpas acontece até dentro dos partidos. De vez em quando o PT se digladia internamente. O PMDB também não é diferente. De vez em quando sobe um parlamentar do partido na tribuna para criticar o próprio partido. Se não fosse assim, não seria democracia”, declarou Raupp.
Um dos vice-presidentes do PT, o deputado José Guimarães (CE) acha que chegou o momento da direção dos dois partidos sentarem de maneira séria à mesa para discutir a relação e fazer um pente-fino estado por estado. “Temos que deixar de misturar isso com reforma ministerial e pagamento de emendas. Isso é atribuição do governo. Cabe aos partidos estabelecer uma estratégia política”, cobrou ele.
Minas. Os problema se avolumam. Quem acompanha de perto as negociações acha que o PMDB fluminense já escapou por entre os dedos do PT, algo que também está ocorrendo no Ceará e pode acontecer em Minas Gerais e em Goiás. No Ceará, a crise envolve a disputa entre o senador Eunício Oliveira (PMDB) e o próprio PT de José Guimarães pela aliança com o governador Cid Gomes (PROS). Em Minas, o ainda ministro da Agricultura, Antônio Andrade, luta para ser vice do candidato petista ao governo mineiro, o ex-ministro Fernando Pimentel. Mas parte da legenda flerta abertamente com Aécio Neves.
Dilma ainda encontra dificuldades para concluir a reforma ministerial. Antes escanteado, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) voltou a ser cotado para ministro, mas agora no Turismo, não mais na Integração Nacional. O problema é que a pasta é ocupada por Gastão Vieira, indicado pela bancada da Câmara. Embora rompido com o Planalto e líder de um bloquinho de 250 deputados para infernizar o Planalto, Eduardo Cunha deverá aumentar ainda mais a voz contra o governo caso os deputados percam um dos dois ministérios que comandam atualmente.
A presidente também deve liberar Gilles Azevedo para assumir uma função na pré-campanha presidencial. Ele exercerá o mesmo papel que teve em 2010 – organizar a agenda de viagens e comícios de Dilma. O provável substituto de Gilles é Beto Vasconcelos, que retornou recentemente ao Brasil após uma temporada de estudos em Londres. Beto é homem de confiança da presidente. Foi o responsável pela área jurídica da Casa Civil quando Dilma era ministra. Em 2011, foi nomeado secretário-executivo da pasta durante a gestão de Antonio Palocci e continuou no mesmo posto com a ex-ministra Gleisi Hoffmann, até pedir exoneração para estudar no exterior.
Fonte: Estado de Minas
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