Da vitória em 2006 até hoje, socialista expande influência no Estado e rompe com o PT, visando a candidatura presidencial
Jornal do Commercio (PE)
Terça-feira, 10 de janeiro de 2006. Na sede estadual do PSB, localizada no bairro do Espinheiro, os principais nomes do Partido Socialista Brasileiro reuniram-se para bater o martelo em prol da candidatura do então deputado federal Eduardo Campos ao governo do Estado. As articulações já estavam sendo maturadas, mas foi a partir daquele dia que a postulação de Eduardo passou a ser trabalhada mais intensamente. O objetivo: acabar com a hegemonia do então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) – que já estava há sete anos no comando do Executivo – em Pernambuco.
Após a reeleição de Jarbas, em 2002, o PSB começou a passar por um processo de reorganização. Naquele ano, a legenda lançou Dilton da Conti para disputar o governo. O socialista saiu do pleito com 3,7% dos votos válidos. Depois de inúmeras lideranças migrarem para o “outro lado”, os membros do partido decidiram reagir. O PSB precisava apresentar alguém que pudesse vencer o candidato que seria colocado por Jarbas quatro anos depois.
Com um mandato de deputado estadual e três de federal, Eduardo era tido como a nova liderança do PSB. A aposta se fortaleceu depois que o socialista assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2004, no primeiro mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No ano seguinte, saiu da pasta e, com a morte de Miguel Arraes, seu avô, passou a comandar o PSB nacionalmente. Em Pernambuco, era dado início ao trabalho de tentar conquistar novos aliados.
A pré-candidatura de Eduardo foi alvo de questionamentos. O socialista iria enfrentar duas grandes forças em Pernambuco: o então candidato governista Mendonça Filho (à época, no PFL, hoje DEM), apoiado por Jarbas Vasconcelos, e Humberto Costa (PT), que contava com o apoio do ex-presidente Lula.
Os atos normalmente eram esvaziados, até que surgiu a ideia de lançar a Tribuna 40. Num caixote de madeira e sem recursos suficientes para grandes estruturas, Eduardo ocupava as praças das cidades para fazer comícios. Os atos aconteciam as terças e as quintas, sempre com poucos líderes políticos. Ele tinha o apoio do PR, PDT, PSC e PP.
Seu primeiro ato como candidato aconteceu na comunidade Ilha de Deus, na Imbiribeira. O ponto era estratégico pela ligação que o ex-governador Miguel Arraes tinha com a localidade. O ato, assim como os que vieram em seguida, não mobilizou muitas lideranças.
A situação de Eduardo começou a mudar no final de agosto. Quase dois meses após o início oficial da campanha, as denúncias que atingiam o então candidato Humberto Costa no envolvimento na máfia dos vampiros, esquema de superfaturamento na compra de produtos hemoderivados no Ministério da Saúde, começavam a favorecer Eduardo. Com o crescimento do socialista nas pesquisas, não demorou muito para o candidato do PSB polarizar com Mendonça Filho. Em setembro, os levantamentos de intenções de voto já mostravam Eduardo à frente de Humberto.
Na análise do cientista político Túlio Velho Barreto, a crise vivenciada por Humberto foi determinante para a vitória de Eduardo. “Humberto era a bola da vez, era do partido do presidente Lula. E de certa forma Lula não deu prioridade, estava com os dois”, destaca. Barreto ainda destaca que as acusações de Mendonça direcionadas a Eduardo sobre o caso dos precatórios não tiveram efeito porque já tinham se tornado “ultrapassadas”.
Eduardo saiu do primeiro turno com 33% dos votos, enquanto Mendonça obteve 39% e Humberto alcançou 25% da preferência do eleitorado. No mesmo dia, o PT anunciou o apoio ao socialista no segundo turno. As demais legendas que faziam parte da coligação de Humberto seguiram a decisão dos petistas. Logo o palanque de Eduardo cresceu. No segundo turno, ele venceu Mendonça com quase 30 pontos de vantagem.
Já no primeiro governo foi apoiado por uma ampla base governista, o que contribuiu para assegurar o segundo mandato com facilidade. No pleito de 2010, enfrentou o senador Jarbas Vasconcelos nas urnas, numa disputa em que foi acusado pelo peemedebista de cooptar prefeitos e lideranças municipais. Com o apoio de quase 400 candidatos da proporcional e boa aprovação do governo, Eduardo venceu a eleição com mais de 80% dos votos válidos.
O segundo mandato foi ainda mais confortável para o governador. A oposição ao seu governo foi diminuta, apesar do barulho feito por alguns nomes na Assembleia Legislativa, a exemplo do deputado estadual Daniel Coelho (PSDB). Com a quase unanimidade dos deputados na Casa de Joaquim Nabuco, os projetos de interesse do governo não sofreram dificuldades para serem aprovados.
Foi no pleito municipal de 2012 que Eduardo Campos testou sua popularidade. Num caminho de afastamento do PT, Eduardo articulou candidaturas do PSB em várias cidades do País onde o os petistas tinham o monopólio eleitoral. A principal vitória foi no Recife, com o então candidato Geraldo Julio (PSB), que disputou contra Humberto Costa.
Geraldo, um técnico desconhecido, venceu no primeiro turno e Humberto ficou como terceiro colocado. Em outras cidades do País, Eduardo manteve o distanciamento do PT, ao mesmo tempo em que se aproximou do PSDB em palanques locais.
Após a eleição, o socialista começou a intensificar seus movimentos de olho na disputa nacional. O cientista político Túlio Velho Barreto destaca que a coligação com o PT foi mantida até o momento em que os socialistas eram beneficiados pela aliança. Para ele, caso o ex-presidente Lula ainda estivesse no Planalto, Eduardo não teria se desvinculado do PT. “Ele sempre nutriu (o desejo de disputar), mas a relação nunca foi harmônica. Porém, com Lula ele não estaria se mexendo. Com Dilma, ele se acha um ator competitivo”, avaliou.
Os resultados obtidos pela sua gestão em Pernambuco contribuíram para a inserção dele em nível nacional. As participações em palestras e eventos com o empresariado se tornaram constantes em 2013 e, com a economia brasileira enfraquecida, a gestão da presidente Dilma Rousseff passou a ser alvo de críticas do governador.
Também no ano passado, o arco de aliança que dá sustentação ao governo Dilma passou a ser criticado por Eduardo. No dia 18 de setembro, após um encontro que reuniu os principais nomes do PSB nacional, o governador e presidente do partido anuncia a saída da legenda do governo federal. Neste momento, ele deu o principal passo para selar o afastamento do PT e se colocar como uma opção à disputa presidencial.
No mês seguinte, Eduardo conseguiu o primeiro e principal apoio para consolidar seu projeto presidencial. Com o pedido de registro do Rede Sustentabilidade vetado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o socialista garantiu o apoio da ex-ministra Marina Silva, até então segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto. Marina se filiou ao PSB no dia 5 de outubro e será anunciada como vice-presidente na chapa de Eduardo ainda este mês.
Até o final do ano passado, o PSB ainda intitulava-se como um partido da base aliada. Porém, no último mês, a legenda assumiu a voz de oposição. As críticas ao governo Dilma também foram intensificadas e a promessa é de que a postura de Eduardo seja ainda mais dura até a eleição. Hoje, o gestor deixa o governo estadual para entrar de vez na disputa pelo Palácio do Planalto.
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