Cargo, tempo de TV e partido são armas da presidente
- Valor Econômico
Há 12 meses, a presidente Dilma Rousseff tinha algo em torno de 63% de aprovação, segundo pesquisas do Datafolha e Ibope sob o escrutínio permanente do Palácio do Planalto. Hoje, a aprovação do governo está próxima dos 34% e a intenção de voto da presidente, em 37%. Entre um número e outro houve a derrocada de junho, quando Dilma perdeu 30 pontos nas pesquisas, da noite para o dia. É provável que Dilma e seu governo não estivessem assim tão espetaculares, há um ano, e nem tão ruins agora, como sugerem as últimas sondagens. A régua para avaliar a presidente e seu governo não deve ser a mesma régua de antes das manifestações de junho do ano passado.
O PT é pessimista. É da natureza do partido oscilar entre a euforia e a depressão. Mas Lula parece não ter dúvida de que Dilma vira o jogo na campanha eleitoral e ganha um novo mandato para mais quatro anos no Palácio do Planalto. Dados objetivos é que não faltam para justificar a expectativa do ex-presidente. A primeira delas é que, apesar da enxurrada de notícias negativas que desce do Planalto Central, de acordo com as mais recentes pesquisas Datafolha e Ibope Dilma ainda venceria a eleição no primeiro turno, numa disputa contra Aécio Neves (PSDB) e a dupla Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade). É uma candidata forte.
Não está claro ainda se os 37% de intenção de votos da presidente são piso ou teto. Nem se a queda já pode ser considerada uma tendência. O mais provável é que sejam piso, apesar da expectativa de nova queda da popularidade da presidente e do governo nas próximas sondagens, mas nada parecido com junho. Uma coisa é certa: 37% é um índice que qualquer um dos outros candidatos, Eduardo ou Aécio, gostaria de poder ostentar neste momento, quando o noticiário das eleições passa a sofrer a concorrência direta da Copa do Mundo.
A Copa não começa só em 12 de junho, com o jogo de abertura, mas já depois do feriado do 1º de Maio com o desembarque das primeiras seleções nacionais. Ao contrário dos candidatos do PSDB e PSB, Dilma tem o palanque do governo para atravessar um período praticamente perdido para Aécio e Eduardo se tornarem mais conhecidos. Mas os riscos para a presidente da República são proporcionais ao seu grau de exposição.
Num evento da magnitude da Copa do Mundo, há muito o que pode sair errado, sobretudo quando muito foi deixado para a última hora. O clima "de ansiedade, de contagem regressiva" em relação ao início do mundial é monitorado permanentemente por Dilma e seus auxiliares.
A imagem usada no Planalto para traduzir este momento de ansiedade, é a de uma família que resolve convidar os amigos para um almoço em casa. Momentos antes de chegar o primeiro convidado ainda há muito o que fazer, a família se mobiliza na arrumação da casa, afasta um móvel aqui, põe uma cadeira ali, mas chegada a hora a casa parece em ordem para receber as pessoas. E o país, como a família do exemplo, quer fazer bonito, não quer passar vergonha. Dilma será anfitriã por longos quase dois meses. Pode ser uma vantagem, se tudo correr bem até o último convidado se despedir.
Dilma, Lula e o PT esperam que a presidente passe incólume por esse período, o que facilitaria as coisas para a campanha propriamente dita, que começa no início de julho mas deve esquentar mesmo na entrada do horário eleitoral no rádio e na televisão, no dia 15 de agosto. É quando o peso da candidatura à reeleição da presidente da República deve se manifestar. Dilma tem mais que o dobro do tempo de propaganda dos seus adversários.
Outro aspecto é o partido: o PT sempre teve um candidato competitivo nas eleições presidenciais - quando não venceu, ficou em segundo lugar. Dos dois principais adversários, um não tem estrutura partidária, Eduardo Campos, e o outro, Aécio Neves, é uma espécie de recomeço. A candidatura Dilma tem uma narrativa que começa em 2003, quando o PT tomou dos tucanos a cadeira número um do Palácio do Planalto, e é a campanha de uma estrutura que vem sendo construída há muitos anos. Se Eduardo Campos for para o segundo turno com Dilma, entra para a história: será a primeira vez, desde 1994, que o terceiro nas pesquisas - ou uma alternativa a PT e PSDB - disputa a final.
O governo Dilma está no limite (os 34%) de aprovação necessário para levar a presidente a pensar na reeleição, segundo quem entende e estuda pesquisa de opinião. Em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito disputando contra um candidato forte (Lula), num cenário econômico bem mais turbulento que o atual, o país não tinha reservas e sentia os efeitos das ondas das crises russa e asiática. Em junho, a três meses da eleição, FHC tinha apenas 33% de ótimo e bom nas pesquisas de opinião.
A cinco meses da eleição, uma Copa do Mundo e uma campanha inteira pela frente, Dilma não está tão ruim quanto transparece do noticiário e temem muitos de seus aliados, mas sua posição não é inatacável. De 22 meses de março pesquisados pelos institutos Datafolha e Ibope, em apenas dez marços a avaliação do presidente da República esteve pior em relação ao mês de dezembro do ano anterior. Este março de Dilma é um deles.
À medida que se aproxima a data de definição do candidato do PT a presidente, na convenção prevista inicialmente para 20 de junho, hoje agendada para 29, é maior o número de petistas que arrisca dizer para Lula que Dilma vai perder a eleição e que a manutenção "do projeto" passa por sua volta já. O credo de Lula não muda: a candidata é Dilma e ela vai ganhar a eleição de outubro. Nunca, no entanto, Lula recorreu a uma imagem tão forte quanto a que desenhou para um amigo de longa data, em conversa recente. Segundo Lula, não há motivo que possa justificar a troca do candidato do PT. Tirar Dilma à essa altura, disse o ex-presidente ao amigo, seria "um estupro".
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