Reajuste é insuficiente para cobrir perda com inflação, dizem Aécio e Campos em comemoração de 1º de Maio
Ministros e políticos do PT são hostilizados e vaiados até em evento organizado pela CUT, simpática ao governo
Daniela Lima, Flávio Ferreira e Machado da Costa – Folha de S. Paulo / EBC
SÃO PAULO - As comemorações do Dia do Trabalho no maior colégio eleitoral do país foram marcadas ontem pela hostilidade do público com os representantes do governo e por ataques de políticos da oposição à presidente Dilma Rousseff.
Os dois principais adversários da petista na corrida eleitoral deste ano protagonizaram o evento da Força Sindical, a segunda maior central do país, na capital paulista.
Recepcionados pelo deputado Paulinho da Força (SDD-SP), principal liderança política da central, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE) fizeram críticas ao reajuste de 10% no Bolsa Família anunciado por Dilma em cadeia nacional de rádio e televisão na quarta-feira.
Em outro evento, organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), que é a maior do país e é alinhada ao PT, latas e garrafas foram arremessadas pelo público quando a presença de ministros foi anunciada no palco.
"A presidente da República, infelizmente, mente aos brasileiros no momento em que diz que o reajuste de 10% no Bolsa Família permite que a remuneração alcance aquele patamar mínimo estabelecido pela ONU [Organização das Nações Unidas], de US$ 1,25 por dia, com uma renda mínima para se estar acima da linha da pobreza", afirmou Aécio no ato da Força.
"O valor teria que chegar a R$ 83 e não a R$ 77", disse.
O reajuste no Bolsa Família ainda será detalhado pelo governo. Procurado, o Planalto não comentou a fala de Aécio até a conclusão desta edição.
No pronunciamento na quarta, Dilma atacou a oposição e anunciou outras medidas de interesse dos trabalhadores, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda e a promessa de manter a valorização do salário mínimo.
"A presidente foi ontem à televisão falar que quer dialogar com o trabalhador, mas hoje está fechada no palácio. Não veio olhar para vocês e explicar porque a inflação voltou, o crescimento sumiu e a decência anda em falta no atual governo", disse Aécio.
Em entrevista, Campos disse que a petista "enxuga gelo" ao reajustar o Bolsa Família sem conter a inflação. Ao discursar, afirmou que "o Brasil tomou o caminho errado" e que é preciso "mudar".
Paulinho da Força fez diversos ataques à presidente. Chegou a pedir, por duas vezes, que o público desse uma "banana" para Dilma. "Vamos erguer o braço! Toma aqui, presidente!" Aécio e Campos ficaram visivelmente constrangidos a seu lado.
No momento mais exaltado, Paulinho disse que Dilma poderia ser presa por causa de irregularidades na Petrobras. "Se fizer tudo o que disse na televisão ontem, quem vai acabar na Papuda é ela", afirmou, citando o presídio onde os petistas condenados no mensalão cumprem pena.
Quem subiu no palanque para defender o governo foi hostilizado. Principal interlocutor do Planalto junto aos movimentos sociais, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi vaiado.
"Pode vaiar. É parte da democracia", disse. Ele atacou Aécio, a quem classificou como uma nova versão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). "Eles governaram o país sob um arrocho salarial enorme."
No evento da CUT, a hostilidade do público impediu o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o ministro do Trabalho, Manoel Dias, e o das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, de falar. Berzoini, vaiado ao ser anunciado, quando interrompeu um dos shows da festa, tentou falar e não conseguiu.
Pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, tentou outra abordagem. "Quem aqui é contra o racismo? Quem aqui acha que somos todos iguais?" Falou das diferenças salariais entre homens e mulheres e deixou o local antes que as vaias recomeçassem.
O senador Eduardo Suplicy (SP) foi o único petista aplaudido. O presidente da CUT, Vagner Freitas, defendeu o governo e afirmou que a oposição representa o "retrocesso". "Temos que reconhecer os avanços que conquistamos nos últimos 12 anos", disse. "Ainda há muito a ser feito, mas não podemos esquecer das vitórias."
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