Texto do pronunciamento do 1º de maio teve dedo de marqueteiro e expectativa de virada na pré-campanha
Chico de Gois – O Globo
BRASÍLIA - O tom do discurso que a presidente Dilma Rousseff fez anteontem à noite em comemoração ao Dia do Trabalho destoou, e muito, dos pronunciamentos realizados anteriormente por ela na mesma ocasião. Com forte viés eleitoral, sua construção contou com a participação ativa do marqueteiro João Santana e do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Thomas Traumann, e desde terça-feira já era apontado pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, como um ponto de virada na pré-campanha da petista. Levantamento realizado pelo GLOBO demonstra que em nenhum momento, nos últimos três anos, Dilma fez tantas promessas como as anunciadas na quarta-feira. Nunca antes, também, ela recorreu a hipotéticos inimigos para defender políticas adotadas por seu governo e, pela primeira vez, concluiu sua declaração com uma frase que é um libelo à militância:
— Quem está ao lado do povo pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória.
Nos pronunciamentos anteriores, Dilma era praticamente monotemática. Em 2011, em seu primeiro ano à frente da Presidência, ela foi quase messiânica: disse que os brasileiros sentem que dias melhores estão chegando, que o Brasil começa a realizar seus sonhos e que é preciso ampliá-los para vencer vários desafios. Entre esses desafios, ela apontou a necessidade de melhorar a infraestrutura, fazer o país crescer de forma harmônica e sustentável e retirar milhares de pessoas da miséria. Ela aproveitou a ocasião para informar que lançaria o programa Brasil sem Miséria e contou que, no dia anterior, tinha proposto o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
— Convoco todos os brasileiros, sem exceção, para vencermos juntos a batalha contra a miséria — apregoou.
Em 2012, o tom foi diferente. Dilma passou a maior parte do pronunciamento defendendo a queda nas taxas de juros.
— A economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas de juros, seja para o produtor, seja para o consumidor, se igualarem às taxas praticadas no mercado internacional.
Quando atingirmos esse patamar, nossos produtores vão poder produzir e vender melhor, e nossos consumidores vão poder comprar mais e pagar com mais tranquilidade — disse a presidente.
Dilma afirmou, na ocasião, que considerava “inadmissível” que o Brasil continuasse com um dos juros mais altos do mundo e criticou os bancos privados, dizendo que eles não poderiam continuar cobrando os mesmos juros para as empresas e para os consumidores, enquanto a taxa Selic caía.
Naquele mês, a Selic estava em 8,50% ao ano. Neste ano, a taxa voltou a aumentar e está em 11%.
Quando tratou de aumento do poder de compra dos salários, Dilma lembrou que o governo tinha retirado impostos da folha de pagamentos. No ano passado, Dilma elegeu a Educação como ponto principal de seu pronunciamento no Dia do Trabalho. Ela anunciou que estava enviando ao Congresso projeto para que os royalties do pré-sal fossem aplicados exclusivamente na Educação.
— Só uma Educação de qualidade pode garantir mais avanço para o emprego e para o salário — disse Dilma.
— O Brasil precisa de uma grande revolução no ensino, capaz de garantir o nosso futuro como nação líder e soberana no mundo — defendeu.
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