O governo tapa o sol com peneira ao fugir de um diagnóstico sobre o que acontece com 62 milhões de brasileiros em idade de trabalhar que não procuram emprego. Um cruzamento com dados do Ipea mostraria que, entre eles, estão cerca de 10 milhões de jovens "nem-nem"
- Correio Braziliense
Detonada pelo Palácio do Planalto, que mandou suspendê-la depois de um questionamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra-chefe da Casa Civil, da tribuna do Senado, a pesquisa ampliada do IBGE sobre o mercado de trabalho (Pnad Contínua) mostra uma realidade que ainda vai dar muito o que falar e influenciará os resultados da campanha eleitoral: temos um exército de 62 milhões de brasileiros em idade de trabalhar — ou seja, 39% da chamada população economicamente ativa — que desistiram de procurar emprego. Quem são, por que não procuram um posto de trabalho? São perguntas que passaram o Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador, sem a devida resposta.
O Brasil tem 92 milhões de trabalhadores, com nível de ocupação da ordem de 57% da população em idade de trabalhar. Oficialmente, os desempregados no Brasil pós-Lula são apenas 4% dessas pessoas, isto é, 6% dos que procuram emprego. Pelas estatísticas do Ministério do Trabalho, o desemprego no Brasil é menor do que o da maioria dos países europeus. No entanto, Coreia do Sul (3,9%), Japão (3,6%), Noruega (3,5%) e Suíça (3,2%) desmentem a tese de que temos a menor taxa de desemprego do mundo, como propaga o marketing oficial.
Esse é um dos mitos da era pós-Lula que a pesquisa ampliada do IBGE derrubaria. A tese do pleno emprego se ampara em dados de apenas seis regiões metropolitanas, que mostram desemprego na casa dos 5%. A Pnad Contínua mostra taxa mais alta, de 7,1% na média de 2013, e, sobretudo, desigualdades regionais: no Nordeste, o desemprego médio do ano ficou em 9,5%. Nossa taxa real de desemprego estaria acima à dos Estados Unidos, que foi de 6,7% em março. A pesquisa ampliada permitiria comparações com taxas apuradas no passado por amostras de domicílios. Números do Ipea mostram que o desemprego atual é semelhante, por exemplo, ao medido na primeira metade nos anos 1990.
O governo tapa o sol com peneira ao fugir de um diagnóstico sobre o que acontece com 62 milhões de brasileiros em idade de trabalhar que não procuram emprego. Um cruzamento com dados do Ipea sobre a juventude mostraria que entre são cerca de 10 milhões os jovens nem-nem, com menos 30 anos, que também não estudam, ou sejam, que tendem a permanecer fora do mercado de trabalho para o resto da vida. Nesses milhões de não empregados, digamos assim, certamente há deficientes físicos que não encontram colocação, negros que são discriminados, mulheres que se dedicam apenas ao lar, pessoas acomodadas pelo Bolsa Família, encarcerados nos presídios, concurseiros em busca de um cargo público etc. Quantos são eles? Aparentemente, o governo não quer saber ou, pior, não quer revelar. Com certeza, porém, a resposta não está no velho samba de quadra do falecido Enildo Barbudinho, famoso radialista e sambista de Niterói, cujo nome intitula a coluna.
Primeiro de Maio
O ato da Força Sindical em comemoração pelo Dia do Trabalho ontem em São Paulo virou um meeting da oposição. Secretário-geral da Presidência, o ministro Gilberto Carvalho foi vaiado, embora seja um velho conhecido dos sindicalistas. Recebeu apupos ao falar das medidas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff na quarta feira, em cadeia nacional de rádio e televisão, ou seja, o aumento de 10% no valor do Bolsa Família e a atualização da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física.
As estrelas do evento foram o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), que desceram o pau na atual política econômica e foram muito aplaudidos, uma cena inusitada para os trabalhadores paulistas. O presidente licenciado da central sindical, o deputado federal Paulinho da Força, que preside o Solidariedade, exagerou nas críticas à presidente Dilma Rousseff: chegou a pedir ao público que mandasse uma banana para a presidente.
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