Para o PT, o grande adversário é Aécio e não Eduardo Campos
- Valor Econômico
Dilma Rousseff é candidata à reeleição. A presidente da República deixou isso claro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores. Ela não está disposta a abrir mão da candidatura para dar lugar a Lula, o que atenderia à crescente campanha pelo "Volta Lula", patrocinada nos últimos meses pela base aliada, segundo informação de interlocutor muito próximo do ex-presidente.
A disposição de Dilma para conquistar um segundo mandato ficou evidente no pronunciamento de quarta feira, em comemoração ao Dia do Trabalho, quando anunciou o reajuste de 10% para o Bolsa Família, antecipou a correção da tabela do Imposto de Renda de 4,5% no próximo ano, comprometeu-se em continuar com a valorização do salário mínimo e fez um discurso político de forte defesa da sua gestão.
Disse que não vai tolerar a corrupção de quem quer que seja, mostrou foco nos "mais pobres" e na "classe média" e ressaltou que, por ser um governo de mudanças, "encontra todo tipo de adversários, que querem manter seus privilégios e as injustiças do passado, mas nós não nos intimidamos".
Hoje, no Encontro Nacional do PT para apresentação das diretrizes do programa de governo, Lula e Dilma estarão juntos para, uma vez mais, reafirmar o que deve ser entendido como o fim do movimento "Volta Lula".
Consagrada para a disputa de outubro, Dilma não necessariamente unirá a base aliada em torno de sua campanha. Há quem considere muito provável que uma fração dos aliados migre para a candidatura de Eduardo Campos, do PSB. Nesse sentido, não falta quem realce que Campos e Lula, embora hoje em terrenos opostos, cultivam uma relação de amizade "fraternal". Tanto que o ex-governador de Pernambuco era o candidato de Lula para a sucessão de 2018. Aécio Neves, do PSDB, é, portanto, o adversário a ser enfrentado e, na ótica do PT, liquidado.
Um fio desencapado atormenta os petistas e tira o sono do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O governo desconhece qual é o poder destruidor da Polícia Federal que, embora subordinada à Cardozo, tem total independência de ação e está insatisfeita com o tratamento recebido do governo. O fato de ter suas verbas podadas e de ter sido dispensada do esquema de segurança dos grandes eventos que o país sedia (Copa do Mundo e Olimpíada), nas mãos do Exército, foi um elemento a mais de irritação. Teme-se que candidaturas petistas possam ser abaladas por denúncias, ou suspeitas de envolvimento em atos de corrupção, a exemplo do que ocorreu recentemente com o candidato de Lula ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. Supõe-se no Planalto que o escândalo da Petrobras e outras denúncias que possam surgir estejam sendo expostas na mídia, a conta-gotas, por delegados e funcionários da PF. "Essa campanha vai ser sórdida," comentou um frequente interlocutor de Lula, referindo-se ao potencial de novos escândalos envolvendo outras candidaturas.
Internado no dia 26 no Hospital Sírio Libanês, por causa de uma crise de labirintite, Lula estaria sob "estresse", segundo relato de quem esteve com ele nas últimas semanas. Viria desse estado de esgarçamento emocional, agravado pela queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, a desastrada entrevista concedida à TV RTP, de Portugal. Nela o ex-presidente atacou a lisura do julgamento do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal: "O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Referindo-se aos petistas condenados e presos disse: "Não se trata de gente da minha confiança".
Em espirituosa observação de um amigo do ex-presidente, a principal razão do estresse de Lula é porque ele percebe que está "perdendo a divindade".
Um bom termômetro da preocupação do empresariado paulista com a possibilidade de Dilma Rousseff conquistar mais quatro anos de mandato foi o evento promovido pelo banco Itaú, na segunda feira.
A instituição convidou seus maiores clientes para ouvir Aécio Neves. O candidato apresentou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como o nome forte de seu eventual governo. Após a explanação de Fraga sobre como está a economia e o que deve ser feito para recolocá-la nos trilhos do crescimento, ambos foram aplaudidos de pé.
O maior receio do setor privado em geral é que, vitoriosa nas eleições, Dilma Rousseff se sinta encorajada a redobrar a aposta nas suas convicções, reproduzindo a forma intervencionista e autoritária com que gere a economia do país. "Se Dilma vencer, o risco é de que na posse, em janeiro de 2015, seu governo complete oito anos. Ou seja, comece envelhecido", comentou um aliado de Lula que conviveu e conhece bem a presidente.
A Confederação Nacional da Indústria começa a fazer o dever de casa para se apresentar aos candidatos à sucessão presidencial. Elegeu dez temas que o setor considera prioritários para recuperar a produtividade, ganhar competitividade e voltar a crescer a taxas mais expressivas. São eles: educação, ambiente macroeconômico, segurança jurídica e burocracia, eficiência do Estado, desenvolvimento de mercados, relações de trabalho, financiamento, infraestrutura, tributação e inovação.
Segundo Robson Andrade, presidente da CNI, a ideia é mostrar "onde estamos" e "onde queremos chegar". Para isso, cada tema será acompanhado de um diagnóstico do que está errado e o que deve ser feito para melhorar. A indústria vai apresentar os projetos já escritos para os candidatos em fim de junho. Para julho, espera ter encontros com cada um dos presidenciáveis para arrancar deles compromissos firmes com a agenda do setor.
Serão 42 projetos envolvendo desde uma nova redação para legislações relativas a pagamentos de tributos e redução da burocracia a um conjunto de propostas normativas para o licenciamento ambiental, passando pela legalização das negociações coletivas no mercado de trabalho.
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