• Campos pode se afirmar em São Paulo
- Valor Econômico
A esta altura da pré-campanha e sem solução para o impasse com o grupo Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, uma aliança do PSB com o governador Geraldo Alckmin parece a única alternativa em São Paulo para a campanha de Eduardo Campos à Presidência da República. E pode ser um gesto de afirmação do presidenciável, criticado por certa inibição diante do protagonismo de sua vice.
O lançamento de candidato próprio ao governo de São Paulo, como defende Marina e seu grupo, sem aliados e com cerca de 50 segundos de tempo de televisão para a propaganda gratuita, não ajudaria a alavancar Campos no maior colégio eleitoral do país. Já uma aliança com Paulo Skaf (PMDB) é considerada inviável, por ser palanque da presidente Dilma Rousseff e Michel Temer.
O apoio (ou, ao menos, a não oposição) de Alckmin no interior é fundamental, já que o governo do Estado controla mais de 500 das 645 prefeituras. Um presidenciável com expectativa de vitória não pode se dar ao luxo de lançar um candidato a governador de "mentirinha".
Uma aliança com o PSB poderia dar a Alckmin argumento para não se envolver tanto na campanha de Aécio Neves (PSDB) à Presidência. Seria uma espécie de troco para o que os tucanos paulistas consideram falta de empenho do senador em Minas, quando Alckmin e Serra disputaram a Presidência, em 2006 e 2010.
Na hipótese de candidatura própria, o mais cotado é o presidente do PSB no Estado, deputado Márcio França. Embora contrário a essa opção, França é o nome mais representativo do PSB e tem o controle do partido. Ele sofreu vetos do movimento Rede, que quis impor outros nomes, mas o grupo não tem voto na convenção. E Campos já deixou claro que não vai interferir.
Uma saída para o grupo Rede em São Paulo é deixar o PSB seguir seu caminho e a ex-ministra não apoiar nenhum candidato ao governo.
Marina interferiu diretamente nas alianças em pelo menos cinco Estados: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Amazonas - mais de 40 milhões de eleitores, segundo faz questão de lembrar um dirigente do PSB.
O resultado é considerado positivo, mas a maioria lamenta o recuo no acordo com a senadora Ana Amélia (PP), no Rio Grande do Sul. Ligada ao setor ruralista, Ana Amélia é respeitada e tem sido assediada por vários partidos. Aliou-se ao PSDB.
"Fazer política não é uma arte simples. Requer alto grau de tolerância, paciência e habilidade. Numa aliança, é preciso respeitar as diferenças, conciliar as diferenças ideológicas e construir um programa de governo", diz a senadora, sobre a interferência de Marina nas conversas dela com Campos.
Por não ter conseguir o registro de criado do partido Rede Sustentabilidade a tempo de disputar as eleições de 2014, Marina filiou-se ao PSB. Mas o grupo funciona de forma independente. Acaba de realizar, em Brasília, seu primeiro congresso. Na estrutura da campanha, cada setor tem um coordenador do PSB e um do Rede. A elaboração do programa de governo é coordenada por Maurício Rands (PSB) e Neca Setúbal (Rede).
A participação da ex-ministra na chapa afastou o setor rural e gerou desconfiança no empresariado com relação a uma vitória de Campos. A presença dela ao lado do ex-governador no 13º Fórum de Comandatuba, na Bahia, foi apontada por empresários como razão para uma "inibição" dele. Aécio esteve mais à vontade para desenvolver seu programa de governo e afirmativo nas críticas à gestão petista.
Dirigente dizem que, apesar de desconfortos pontuais, as vantagens da aliança PSB-Rede (integrada ainda por PPS e PPL) são maiores e virão com o tempo. Afinal, Marina teve 20% dos votos na eleição presidencial de 2010 e combate a política tradicional, rejeitada hoje especialmente pela juventude.
Mesmo assim, se o protagonismo da ex-ministra divide opiniões no partido, fora dele há críticas abertas.
"Passa a imagem de duplo comando. No programa de televisão, ninguém sabia quem era candidato a presidente. Isso não é bom. Ninguém quer votar num candidato que não tem perfil de comando", afirma o presidente do DEM, senador José Agripino (RN). Setores do seu partido tendiam aderir a Campos, mas recuaram. O partido está fechado com Aécio.
"Marina está atrapalhando. Eduardo estava decolando, empolgando. De repente, travou os dois motores. Quando está junto com ela, é outra pessoa", diz o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), representante do setor rural. Ele estava próximo de Campos e foi afastado com a chegada de Marina.
Um entusiasta da união com Marina é o senador Rodrigo Rollemberg, pré-candidato do PSB a governador do Distrito Federal. Marina ficou em primeiro lugar na capital em 2010, com 611,3 mil votos (Dilma teve 462,4 mil e Serra, 354 mil).
Para Rollemberg, a união PSB-Rede restringiu alianças políticas tradicionais que o PSB faria, o que transforma o partido na principal opção para o eleitor que quer mudança, principalmente nas zonas urbanas.
"Esse encontro de Eduardo com Marina permite que a chapa seja a expressão da mudança, incorporando dois valores que estão fora da política tradicional: inovação e sustentabilidade."
Em Minas, o PSB rompeu acordo com o PSDB e vai lançar candidato, por pressão do Rede. Mas, sem força na convenção, o grupo não conseguirá impor um nome, segundo os mineiros. O pré-candidato é o deputado Júlio Delgado, presidente do PSB de Minas.
Na Bahia, o PSB lançou Lídice da Mata ao governo e abandonou as conversas com o PMDB. No Rio de Janeiro, o candidato é Miro Teixeira (Pros), que aderiu à tentativa de criar o novo partido. No Amazonas, o PSB ia apoiar um candidato do PPS, mas lançou Marcelo Ramos (PSB), ligado ao Rede - o que causou constrangimento quando Campos e Marina estiveram em Manaus, em abril.
Dirigentes do PSB negam que Campos esteja refém de Marina. Para um deles, "ele é um cara que tem luz própria. Só não adianta acender o farol antes de anoitecer".
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