João Bosco Rabello – O Estado de S. Paulo
Os índices descendentes de aprovação da presidente Dilma Rousseff cuidam de ampliar a distância entre os acordos regionais e a aliança nacional, no vácuo produzido pelo fim da verticalização nas eleições.
A bola da vez, agora, é Santa Catarina, onde o governador Raimundo Colombo, que construiu uma parceria sólida com a presidente, foi apresentado a uma pesquisa interna registrando a queda da candidata governista para 24% no Estado, ficando atrás do oponente Aécio Neves.
Colombo passou a ser aconselhado a manter distância da presidente e a reavaliar o apoio ao PT no plano nacional, pelo menos nos discursos. Está mergulhado estudando os próximos passos. Não deve adotar reação ostensiva, o que o insere no contexto do aliado que não irá contra a militância regional.
Tem sido frequente esse tipo de cenário desde que as pesquisas indicaram uma consistência na queda da presidente nas pesquisas, apesar de a última registrar o que poderá se consolidar como um piso, na casa dos 34%.
No Rio, esse quadro está mais bem definido com a permanência do conflito gerado pela candidatura do petista Lindbergh Farias, que levou à ostensiva retirada do apoio do partido, no âmbito regional, à candidatura do Planalto.
Formalmente, o apoio está mantido, mas a máquina partidária do PMDB não se engajará na campanha presidencial. Segue rachada, com o governador Luiz Fernando Pezão sustentando a aliança com Dilma ma contramão do partido.
Os recentes movimentos do PSD em São Paulo na direção de uma aliança com o PSDB, com o ex-prefeito Gilberto Kassab alimentando a possibilidade de repactuação com os tucanos, indicam que a candidatura do petista Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, tem dificuldades para decolar.
Atingido pela denúncia de um contrato do ministério da Saúde, à época de sua gestão, com o laboratório de fachada Labogen, do doleiro Alberto Youssef, o ex-ministro parece ter optado por um período de silêncio para fugir à visibilidade subitamente negativa.
No Rio Grande do Sul, PMDB e PP se dividem entre as candidaturas de Aécio Neves e Eduardo Campos, este beneficiado pela popularidade da senadora Ana Amélia (PP), que voa em céu de brigadeiro ante a alta desaprovação do governo de Tarso Genro (PT).
Em Fortaleza, a presidente paga o preço da aliança com Cid Gomes, para quem assinou uma promissória de resgate difícil ao encomendar o rompimento do governador com o PSB quando este assumiu a candidatura de oposição ao governo.
O senador Eunício de Oliveira (PMDB) mantém-se à frente nas pesquisas e é dado como candidato sólido. A resistência de Dilma em desagradar aos irmãos Gomes – além de Cid, há o ex-ministro Ciro -, abre a possibilidade de uma aliança do senador com Tasso Jereissati, tucano de linhagem que também figura como favorito se decidir concorrer ao Senado.
O ex-presidente Lula entrou em campo e, fiel ao pragmatismo político que o caracteriza, iniciou uma operação para consolidar a aliança com Eunício sob o argumento de que o projeto de reeleição de Dilma a submete à lógica regional que lhe for mais favorável.
Na Paraíba, Lula também entra com a mesma visão no processo, tentando acertar uma chapa com o PMDB na cabeça, enquadrando o PT no cenário com mais chance de vitória.
Em nenhum Estado parece prevalecer a influência da aliança nacional nas regionais, o que pode ser considerado natural em consequência do fim da verticalização, que desobrigou o alinhamento dos partidos à eleição presidencial.
No entanto, uma candidatura oficial com índices de aprovação popular altos, como já teve a presidente, certamente influiria nas alianças regionais com mais força para impor os interesses do governo.
Não sendo o caso, o fosso entre os cenários regionais e o nacional aumenta e provoca a desmobilização da militância, que passa a se concentrar nas ações locais.
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