• O acirramento da disputa pelo Planalto agrava a bomba fiscal a ser legada
• Kassab, converteu-se numa figura das mais disputadas
As respostas da presidente/candidata Dilma Rousseff à afirmação do cenário de 2º turno combinam a guinada de uma agressiva retórica política (vitória da oposição associada ao “retrocesso social”) com um salto dos gastos da União (prometidos e realizados) nos programas assistencialistas e em investimentos em obras e serviços – novos, ou ligados a projetos com anos de atrasos na execução por causa do mal gerenciamento. A guinada da retórica de palanque – adotada para a contenção do “volta Lula” e para frear tendência constatada nas últimas pesquisas de capitalização por Aécio Neves já de parte da demanda por mudança de governo – centra-se na mobilização dos pobres contra os ricos ou as elites, em torno do “medo” de extinção ou esvaziamento de tais programas por Aécio ou por Eduardo Campos. Esse tipo de retórica, negativa para o pluralismo democrático do país, constitui, um recurso costumeiro, agora exacerbado, do marketing de campanhas populistas. Cabendo aos candidatos alvejados por ele um discurso e outras ações capazes de neutralizá-lo.
Já a outra dimensão dessas respostas, a do salto dos gastos federais, além das implicações no processo eleitoral, amplia o desequilíbrio fiscal deste ano e agrava o legado de sérios problemas econômicos que o próximo governo receberá. Do peso inflacionário que terá o desmonte do represamento dos preços de energia elétrica, de combustíveis e tarifas de transporte público, e da persistência da precariedade da infraestrutura e da logística (com a má aplicação dos recursos governamentais e a inibição dos investidores privados gerada pelo intervencionismo estatal). Até os efeitos da política externa terceiro-mundista em vigor – o crescente déficit da balança comercial (que seria muito maior sem as exportações do agronegócio), o isolamento do Brasil das cadeias produtivas globais (e a consequente piora da competitividade industrial). Bem como a omissão populista diante do desafio do crescimento do déficit da Previdência e o arquivamento de reformas essenciais, como a tributária. Sem esquecer os enormes prejuízos de Petrobras e da Eletrobras e o custo para Tesouro dos vultosos repasses de recursos ao BNDES para o financiamento de desonerações e subsídios seletivos.
Kassab e os preciosos minutos do PSD no horário “gratuito”
Usando a pré-candidatura ao governo paulista como instrumento de negociação nos planos estadual e federal, o ex-presidente da capital, Gilberto Kassab, converteu-se numa figura das mais disputadas pelos dois polos políticos do país – o PT e o PSDB. Em face do seu próprio peso no pleito local e, principalmente, pelo tempo de mais de 1 minuto e meio a que o PSD terá direito no horário eleitoral “gratuito”. Em São Paulo, os parlamentares que se filiaram à legenda, empenhados em reeleger-se, defendem aliança com Geraldo Alckmin, com o nome de Kassab como vice, o que tem o respaldo do governador. Enquanto o candidato do PMDB, Paulo Skaf, tenta atraí-lo também para companheiro de chapa. E no plano federal, setores do PSD, a partir dos diretórios de Minas e do Estado do Rio, propõem uma articulação com o presidenciável oposicionista Aécio Neves, que incluiria a candidatura de Henrique Meirel-les (vinculado ao partido) como vice na chapa encabeçada por este.
Mas a recomposição das relações entre Kassab e Alckmin e, sobretudo, a proposta de uma guinada do PSD em direção a Aécio suscitam fortes pressões contrárias do Palácio do Planalto e do ex-presidente Lula. Que teve papel relevante na viabilização da montagem do novo partido e avalizou a presença dele no governo Dilma por meio da nomeação de Guilherme Afif como ministro e do acesso a verbas federais. E, agora, Lula cobra pessoalmente o cumprimento de reiteradas manifestações de Kassab de apoio à reeleição da presiden-te. Cumprimento que o ex-prefeito tende a assegurar, o que exclui a guinada pró-Aécio, mas que poderá ser combinado, pragmaticamente, com uma possível candidatura a vice de Alckmin. Reproduzindo em São Paulo a contraposição entre o PSD e o PT predominante na maioria dos estados.
Jarbas de Holanda é jornalista
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