• Nova pesquisa mostra estagnação nas intenções de voto de Dilma e crescimento de Aécio, além da margem de erro. Tucanos comemoram e creditam resultado à crise da Petrobras
Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro – Correio Braziliense
Pela terceira vez em menos de 15 dias, uma pesquisa de intenção de voto — desta vez, do Datafolha — consolida a possibilidade de um segundo turno nas eleições presidenciais de outubro. E, mais uma vez, os números apontam um crescimento do pré-candidato do PSDB, Aécio Neves, que repete o resultado dos levantamentos anteriores, cristalizando-se nos 20% e abrindo vantagem sobre o terceiro colocado, o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos (11%). Divulgado ontem, o levantamento mostrou estagnação da presidente Dilma Rousseff (PT), que oscilou negativamente dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais, caindo de 38% para 37%.
Somados, Aécio, Eduardo e os outros oito candidatos, eles atingem o patamar de 38%, 1 ponto percentual acima do resultado obtido pela presidente. Em relação à pesquisa anterior, Aécio apresentou um avanço de 4 pontos percentuais (tinha 16%), enquanto o pré-candidato Eduardo Campos teve uma oscilação tímida de 1 ponto positivo (antes, ele tinha 10% das intenções de votos).
Os resultados sepultam de vez o planejamento do PT de resolver a questão em primeiro turno, evitando o desgaste de levar o pleito para uma segunda análise dos eleitores. Mostrou também que o Planalto ainda não encontrou o tom certo para mudar o humor dos brasileiros, apesar do pronunciamento da presidente Dilma no Primeiro de Maio, quando sinalizou que seu governo — e um eventual segundo mandato — não abandonaria os trabalhadores e não provocaria arrochos salariais.
Pesou também no desgaste do governo a sucessão de denúncias envolvendo a principal estatal brasileira, a Petrobras. Na quinta-feira, a Justiça Federal do Paraná decretou a quebra de sigilo bancário da empresa nas relações com o Consórcio Nacional Camargo Corrêa (CNCC) nas obras de construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Em ascensão nas pesquisas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) credita a mudança no cenário político justamente à crise da Petrobras.
Na avaliação dele, a presidente está se complicando com o caso. "As denúncias de corrupção influenciaram no resultado da pesquisa. Afinal, uma quadrilha estava levando a Petrobras à situação de insolvência, e a população está vendo isso", justificou o pré-candidato, após reunião com empresários em Maceió. Para Aécio, a conjuntura deve continuar a mudar. Ele destaca que a presidente é conhecida por quase todo eleitorado, enquanto os demais candidatos, por não terem disputado uma eleição nacional, têm índices muito menores.
O argumento é o mesmo usado pelo terceiro pré-candidato com mais intenções de votos, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, para justificar sua colocação. Preferido de 11% dos entrevistados, o socialista espera mudanças quando o horário eleitoral começar, em 19 de agosto. "Se 25% da população diz que nos conhece, a gente já chega em simulação em 11% ou 14%. Imagine quando chegar a 100%. Estou confiante, e nunca tive dúvidas de que essa eleição é em dois turnos e está aberta", disse. "Entre os que já tomaram conhecimento, o próprio Datafolha fez o recorte e viu que a gente se posiciona em primeiro lugar", reforçou.
Expectativa
Mesmo com o cenário rumo ao segundo turno se afunilando, aliados da presidente Dilma Rousseff não viram com maus olhos o novo levantamento eleitoral. A primeira análise é de que ela estancou o ritmo de queda apontado nos últimos meses. Em fevereiro, a intenção de votos para a petista era de 44%, foi para 38% em abril e ficou em 37% em maio. Além disso, o medo do desemprego diminuiu e a expectativa sobre o futuro da economia, segundo uma fonte governista, também apresentou ligeira melhora.
O bom humor não foi abalado nem pelo movimento "Volta, Lula", reforçado pela indicação na pesquisa de que mais de 70% dos brasileiros querem mudanças e que a maioria desses acredita que o mais indicado para a tarefa é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Quem estará ao lado de Dilma na propaganda eleitoral?", indagou um aliado presidencial. Em Cuiabá, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse nunca ter esperado que a eleição fosse decidida no primeiro turno.
Maré favorável
O crescimento da candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG) ao Palácio do Planalto, verificado nas últimas três pesquisas de intenção de votos, vem embalado em alguns fatores essenciais. O primeiro foi o fato de o tucano ter servido-se da propaganda partidária para apresentar-se como alternativa ao modelo petista de governar.
Além disso, Aécio tem aproveitado para capitalizar a crise política e ética vivida pelo governo federal com a sucessão de denúncias envolvendo a Petrobras. O senador mineiro já falava em problemas da eficiência administrativa na maior estatal brasileira desde 2013 — o assunto foi tema central do primeiro seminário organizado pelo PSDB na Câmara quando as queixas se limitavam à manobra contábil. Quando a compra da refinaria de Pasadena veio à tona e a Operação Lava-Jato foi deflagrada pela Polícia Federal, Aécio aproveitou para surfar à vontade, inclusive mobilizando a oposição para a instalação de CPIs — mistas ou exclusivamente composta por senadores.
Por fim, a presidente Dilma também enfrenta uma rebelião em sua base de apoio. O blocão da Câmara, composto por 250 parlamentares, foi o primeiro a aprovar uma comissão externa para investigar a Petrobras. Os deputados do PR defendem o "Volta, Lula"; o PMDB fluminense apoia Aécio. O tucano, inclusive, sonha em subir ainda mais nas pesquisas para descolar o PP de Ana Amélia (RS) e Francisco Dornelles (RJ) das asas petistas. (PTL)
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