Ronaldo D'Ercole e Carol Knoploch – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Apesar de todo o cuidado dos assessores do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff voltou a ser hostilizada nesta quinta-feira pelo menos três vezes, depois da cerimônia de abertura da Copa do Mundo e durante a partida no Itaquerão. Com o encerramento do show, dividido em quatro atos, um locutor fez um agradecimento aos operários que trabalharam nas obras dos estádios da Copa e pediu palmas dos torcedores também aos familiares "daqueles que não estão mais aqui". O estádio todo aplaudiu, mas em seguida começou um coro ofensivo à presidente.
"Eh, Dilma, vai tomar no c...", gritou parte dos torcedores, ao que se seguiram vaias.
A manifestação foi rápida, mas suficiente para causar mal estar em meio à festa. As hostilidades contra a presidente voltaram depois da execução do hino nacional, já com as seleções de Brasil e Croácia em campo.
Novamente, um grupo da arquibancada Norte puxou o coro "Eh Dilma, vai tomar no ...". Mas desta vez os xingamentos e vaias foram rapidamente interrompidos por aplausos, gritos e assovios.
Já no segundo tempo, a presidente foi hostilizada pela terceira vez. Logo depois de Neymar assinalar o segundo gol do Brasil, o telão exibiu a imagem de comemoração de Dilma, o que levou os torcedores a repetirem o coro.
Embora já estivesse presente no estádio (dividia a tribuna de honra com o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e outras autoridades), a presidente não teve seu nome anunciado em nenhum momento. E também não fez o tradicional pronunciamento de abertura, quebrando pela primeira vez em 30 anos um protocolo entre os chefes de Estado do país-sede.
As declarações do chefe de estado e do presidente da entidade na abertura da Copa foram substituídas pela entrada em campo de três crianças carregando pombas que foram soltas simbolizando o desejo de paz durante o megaevento.
Um forte esquema de segurança protegeu a presidente na sua chegada. Depois de oferecer almoço a nove chefes de Estado que estão em São Paulo para a Copa, ela seguiu para o estádio. Um helicóptero acompanhou o trajeto da presidente até o estádio. Lá dentro, usou um elevador privativo que a deixou na área destinada às autoridades.
Durante o Congresso da Fifa, esta semana em São Paulo, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmara que Dilma não irá a outros jogos, além da abertura e da final:
- Ela vai na abertura e na final. Mas não faria sentido ir no jogo entre Alemanha e Portugal, por causa da Angela Merkel, e não ir no jogo do Chile (que deve ter Michelle Bachelet). Assim, não vai em nenhum outro - explicou o ministro que, no entanto, não sabe se a presidente entregará a taça ao campeão, no Maracanã.
Na Copa das Confederação, há um ano, a presidente também foi vaiada pelo público presente no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na oportunidade, Blatter ficou constrangido e chegou a explicitar esse incômodo, dizendo "onde está o respeito, onde está o fair play" e foi vaiado também.
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