Regulação da mídia. Na verdade, mecanismos institucionais para controle da imprensa, esta qualificada pelo próprio Lula como “partido de oposição”. Tema já definido como relevante para os candidatos do partido nos pleitos estaduais, bem como para a campanha reeleitoral da presidente, mas neste caso sofrendo restrições da direção do PMDB. E a criação de “conselhos populares” por decreto de Dilma Rousseff, cujo texto institui um “Sistema de Participação Social” em que tais conselhos cumprirão o papel de representar os “setores organizados” nas decisões do governo federal. Na verdade, um passo político-institucional para progressiva troca da democracia representativa, consagrada na Constituição, pela “democracia direta e plebiscitária da receita bolivariana”. Passo articulado com a desenvoltura do secretário geral da presidência, Gilberto Carvalho, na negociação pessoal com grupos responsáveis por atos ilegais e violentos, como os praticados recentemente por por índios em Brasília e ações de invasões de terra desdobradas em paralisações sucessivas de artérias vitais nas grandes cidades.
Tais iniciativas – da que alveja a liberdade de imprensa às que ameaçam a institucionalidade democrática – têm em vista, imediatamente, favorecer a campanha reeleitoral de Dilma e a preservação ou aumento do peso do PT nos estados e no Congresso Nacional. A primeira, de resultados incertos em face da avaliação predominantemente negativa do governo pelo conjunto da sociedade e, adicionalmente, pela persistência dos partidários do “volta Lula”, que pode reemergir no caso de tropeços da candidata em pesquisas à frente. E as campanhas próprias dos petistas afetadas pelo grande desgaste do partido nas camadas médias e mais bem informadas da população. Problemas, uns e outros, que, induzem o pragmático Lula e os marqueteiros instalados no Palácio do Planalto a optarem por uma radicalização das campanhas em torno do apelo “pobres contra ricos”, da denúncia de que uma vitória da oposição implicará o desmonte das políticas sociais, em particular do “bolsa família”, e da adoção das bandeiras esquerdistas de regulação da mídia e da “democracia direta”.
Mas essa radicalização serve também a outro objetivo já definido e esquematizado pelo lulopetismo, além dos de manutenção do governo central e de conquista de hegemonia partidária no próximo Congresso. Trata-se do preparo de agressiva oposição ao Executivo para a alternativa de derrota na disputa maior em 26 de outubro. A “virada” oposicionista articularia, ou articulará, uma atuação radical das bancadas legislativas com ruidosos protestos de rua da CUT, do MST e de novos movimentos como os dos sem teto, contra toda e qualquer medida político-administrativa de enfrentamento dos graves problemas e distorções macro e micro-econômicas, que serão legados pelo governo Dilma, e igualmente de bloqueio a qualquer proposta de reforma estrutural. Protestos que terão a forma de uma “verdadeira guerra social”, como foi antecipado dias atrás em Porto Alegre pelo líder do MST, João Pedro Stédile. Num contexto em que as entidades promotoras seriam integrantes dos “conselhos populares” que estão sendo criados, em parte já com a perspectiva de tal “virada”, para um retorno de Lula na sucessão de 2018.
Perspectiva que poderá não resistir a um possível malogro da reeleição de Dilma, combinado com a perda pelo PT, já configurada como provável, de dois governos estaduais importantes, os do Rio Grande do Sul e da Bahia. E que distanciaria o partido de um desejável recomeço – pós-mensalão e da prática de abusivo e sufocante aparelhamento do Estado – que lhe propiciaria o exercício de um papel de oposição institucional combativa e forte, correspondente ao seu peso político, necessário à consolidação e ao desenvolvimento do pluralismo democrático brasileiro.
Jarbas de Holanda é jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário