- O Estado de S. Paulo
O apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff não causou surpresa nem impacto particular. Estava escrito nas estrelas. Mas, seja pela margem estreita dos votos (398 a favor e 275 contrários), seja por tudo o que ocorreu nos últimos quatro anos, a decisão sugere alguma consideração.
Ela mostra a dificuldade que têm os políticos brasileiros de inovar suas agendas e rever seus procedimentos.
Ao menos desde junho de 2013 ficou evidente que há um flagrante mal-estar social com o modo como se faz política e se governa no país. Os políticos teriam a obrigação de agir para corrigir as coisas. O problema não é de sistema - o tão falado "presidencialismo de coalizão" -, mas de estilo, pensamento e ação.
Abraçados sem coerência programática ou ideológica, os partidos governam aos trancos e barrancos. Celebram alianças que, além do mais, sobrecarregam os custos das operações governamentais e administrativas, dadas as pesadas exigências que delas derivam.
O apoio peemedebista tem motivação eleitoral. Mas seu efeito político efetivo pode ser visto como contraproducente. É certamente favorável ao PT e a Dilma. Dá-lhe minutos preciosos de rádio e TV, além de palanques em várias regiões, desde que se enquadrem os dissidentes.
Ao PMDB fornece oxigênio para que siga na estrada como partido subalterno, sem pretensões ousadas, ideal ou programa. Abre-lhe a perspectiva de mais uma temporada de proximidade com o poder, mas o impede de sacudir seus andrajos e se renovar.
Não foi por acaso que Michel Temer, antes da apuração dos votos, declarou que a confirmação da aliança com o PT abriria "portas para que um dia o PMDB ocupe todos os espaços políticos desse país, para o bem dos brasileiros". Falou, mas não disse tudo.
O PT ganha, mas pode se arrepender mais à frente, caso vença as eleições. É que a aliança o amarra e condiciona, forçando-o a um jogo que garante certa governabilidade mas impede qualquer reforma digna do nome, o que é péssimo para um partido que se deseja reformador. Não é porque o PMDB assim o queira.
É porque há coisas, em política, que estão inscritas no DNA dos atores: manifestam-se mesmo quando são outras as intenções e complexas as circunstâncias.
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