- Folha de S. Paulo
É possível que Dilma Rousseff não tenha sido consultada quando alguém decidiu dar dois dentes novos a Marinalva Gomes. Moradora de Batatinha, na Bahia, dona Nalvinha ganhou a prótese um dia antes de a petista passar em sua casa para gravar um comercial.
Não concebo um assessor levando o assunto a Dilma: "Presidenta, encontramos uma sertaneja na Bahia. Ela vai recebê-la e gravar imagens para a campanha. É a dona Nalvinha, que é banguela. Mas vamos dar a ela os dois dentes da frente antes de a sra. chegar. Tudo bem?"
Parece evidente que ninguém teria coragem de vocalizar tal ideia de jerico para a presidente. Só que esse não é o ponto. A atitude errada prosperou porque o ambiente a favorece.
Áulicos sentiram-se à vontade. Colocaram o plano em execução. A equipe de TV dilmista talvez tenha chegado a Batatinha com antecedência. A maquiagem estava em curso. Além dos dois dentes, como relatou o jornalista João Pedro Pitombo, dona Dalvinha também ganhou um fogão à lenha ampliado. Imagem é tudo.
O assistencialismo é um dos traços mais retrógrados da rudimentar democracia brasileira. Evoca o pior do país. Os dois dentes e o fogão de dona Dalvinha carimbam em Dilma a marca do atraso que um dia o PT combateu. Até ontem à tarde, o fogão à lenha de Batatinha era exibido num vídeo no site Dilma Muda Mais. Cabe perguntar: muda mais o quê?
O governador da Bahia, o petista Jaques Wagner, produziu a melhor frase sobre o episódio: "Todo mundo bota roupa bonita para receber a presidenta". É verdade. Quem não tem dentes ganha alguns na véspera.
Com avanço da tecnologia, as imagens das propagandas de candidatos governistas mostram um mundo idílico. O céu de São Paulo nunca é tão azul como no horário eleitoral. As rodovias de Dilma parecem estar na Alemanha, de tão lindas e perfeitas.
Pena que seja impossível morar dentro da propaganda do governo.
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