- O Globo
Os sinais de estagnação do primeiro semestre estão presentes na indústria química, que é considerada um termômetro do nível de atividade. O consumo aparente de químicos caiu 1,3% no período, algo que não acontecia desde 2009. Produtos químicos estão no meio da cadeia produtiva e a redução do consumo indica fraqueza em vários setores, como automobilístico, agrícola e de construção civil.
A indústria química ocupa o quarto lugar no PIB industrial do país, atrás de alimentos e bebidas, petróleo e automobilístico. Sua importância quase passa despercebida, mas seus produtos servem de matéria-prima para a produção de centenas de bens de diversos setores. Produtos como plásticos, borracha, resinas industriais, tintas, adubos e fertilizantes estão em itens que vão de carros, aviões e computadores, a eletrodomésticos, cosméticos e embalagens.
Por isso, a queda do consumo aparente — que mede a produção nacional vendida internamente mais as importações — é mais um sinal de esfriamento do ritmo de atividade. Segundo a diretora de economia e estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello, o volume de importações cresceu 8,1% no semestre, mas a produção nacional caiu 7%. Tirando da conta o que foi exportado, chega-se à retração de 1,3% no consumo aparente nos seis primeiros meses do ano.
— Há uma choradeira geral entre os segmentos da indústria química. A infraestrutura não deslanchou com a Copa e ainda houve os feriados. Se a produção fechar o ano estável, estará de bom tamanho — afirmou Coviello.
Desde 2007, o consumo aparente no primeiro semestre caiu apenas duas vezes, em 2009, ano de crise, e 2014. O que acontece este ano foge do padrão. O nível de ocupação do parque industrial químico caiu para 78%, quatro pontos abaixo do mesmo nível do ano passado, indicando maior ociosidade.
O aumento dos custos da energia, os miniapagões, e a ameaça de falta de água no estado de São Paulo são problemas a mais para a indústria química, que planeja investimentos de longo prazo. Tudo isso provoca aumento de custos e deixa os empresários do setor com horizonte de visão mais curto.
Balanço dos balanços
O PIB do segundo trimestre será conhecido apenas na próxima sexta-feira, dia 29, mas uma análise dos balanços de companhias abertas aponta uma fraqueza em setores importantes, como o varejo e a indústria. O resultado operacional (Ebitda) das Lojas Marisa, por exemplo, caiu 17,9% no comparativo anual. Na Hering, a queda foi de 16,9%, para R$ 96,9 milhões. A administradora de shoppings Multiplan apresentou o resultado de suas locatárias. Houve avanço de 9,4% no indicador "vendas nas mesmas lojas", mas o resultado foi impulsionado pelo salto de 19,2% no segmento alimentação. "As pessoas frequentaram shoppings, lancharam, mas deixaram de comprar. É um retrato interessante trazido por essa temporada de balanços. O consumidor está sem apetite para produtos de maior valor", conta Celson Plácido, da XP Investimentos.
Trimestre bom para os bancos
Na indústria, outro termômetro são as siderúrgicas, que fornecem para diferentes cadeias produtivas. A Usiminas viu seu resultado operacional cair 17% em relação ao primeiro trimestre. A venda de aço para o mercado interno ficou estagnada. No caso da CSN foi pior. Com 73% das vendas concentradas no Brasil, a siderúrgica de Volta Redonda viu a demanda de seus clientes nacionais cair 9%. Um contraponto na safra de balanços veio de fora da economia real. As empresas financeiras bateram recordes de lucratividade aproveitando a taxa Selic mais alta em relação ao mesmo período de 2013.
RUMOS DO FED. Para o economista-chefe do banco Modal, Alexandre de Ázara, a alta dos juros nos EUA ficou mais próxima depois da divulgação da ata do Fed e do discurso de Janet Yellen, ontem. A visão é a mesma de Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil.
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