• Reconciliação política, ajustes econômicos e conquista do apoio parlamentar são tarefas que esperam quem vencer a eleição de hoje
Encerra-se hoje uma disputa presidencial marcada, de forma inédita desde a redemocratização, pela imprevisibilidade e pela emoção.
Depois da morte trágica de Eduardo Campos (PSB), a 13 de agosto, três ondas sucessivas se registraram nas preferências do eleitorado, beneficiando inicialmente Marina Silva (PSB), levando Aécio Neves (PSDB) ao segundo turno e, agora, restituindo à presidente Dilma Rousseff (PT) leve favoritismo na reta final da campanha.
Fosse o conjunto dos eleitores uma só pessoa, é como se assistíssemos à busca, simultaneamente desesperada e repleta de esperança, de uma saída para problemas que não têm, por sua própria natureza, uma única resposta.
A persistência de sérias desigualdades sociais, a estagnação econômica, a ameaça de um recrudescimento inflacionário, a corrupção, a péssima qualidade dos serviços públicos e os desequilíbrios insustentáveis da vida rural e urbana não poderiam encontrar nas propostas de um único candidato a sua solução indubitável.
O que poderia haver de messiânico e de conciliador na ideia de uma "terceira via", tal como apresentada por Marina, soçobrou nas fragilidades da candidatura, exploradas de resto por uma impiedosa campanha de contrainformação.
Bastou começar o segundo turno para que a "terceira via" se esvanecesse. Ressurgiu, intensificada pela estreita diferença entre Dilma e Aécio nas pesquisas, a clássica polarização PT-PSDB. Não foram pequenos os reflexos na violência verbal da campanha e no lamentável desvio do debate público para o plano dos ataques pessoais.
A imagem do eleitorado como uma só pessoa, hesitando entre diversas saídas, revelou-se inadequada. Voltou a metáfora de um Brasil dividido, ilustrada nos mapas eleitorais em que o vermelho e o azul preenchiam as regiões mais ricas e mais pobres do país.
O lema dos "pobres" contra os "ricos", na enganosa propaganda do PT, ou dos "informados" contra os "desinformados", numa infeliz sugestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), tem valor quase nulo quando se contam em dezenas de milhões os simpatizantes de cada candidatura.
Nem seria possível haver tantos "ricos" apoiando Aécio nem se pode creditar à ignorância o respaldo que Dilma encontra em parte expressiva dos brasileiros.
Quem quer que vença hoje terá pela frente o desafio de reconciliar uma sociedade atualmente friccionada pelas paixões eleitorais.
Terá de reconciliar, ainda, as aspirações pela mudança com a necessidade de obter, espera-se que com mais limpidez, sua base de apoio num Congresso esfacelado.
O próximo ano virá com dificuldades na área econômica que o improviso não conseguirá contornar. Tanto Dilma Rousseff como Aécio Neves são dignos da tarefa; que um deles a empreenda, porém, é algo que nem mesmo seus apoiadores podem assegurar com confiança.
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