• Não pretendo afirmar que o lulismo é a mesma coisa que o chavismo, uma vez que o Brasil não é a Venezuela
Neste domingo, quando cada um de nós depositará na urna o voto que elegerá ou não o seu candidato, sou levado a fazer algumas considerações a respeito desta eleição, cujo resultado, conforme creio, terá decisiva importância para o nosso futuro.
É verdade que em todas as eleições, particularmente nas presidenciais, interesses contraditórios estão sempre em jogo e o resultado do pleito sempre influirá no curso que a sociedade trilhará.
Creio, não obstante, que na disputa atual, a vitória ou a derrota deste ou daquele candidato terá consequências muito importantes para o futuro do país.
Isso se deve ao caráter que os governos do PT, nestes últimos 12 anos, imprimiram ao seu trato dos negócios públicos, seja no campo da economia, dos acordos partidários ou das relações internacionais.
Não há nenhum exagero em situar o governo petista como simpatizante do neopopulismo latino-americano, intitulado por Hugo Chávez de socialismo bolivariano.
De fato, com o desmoronamento do socialismo real, os partidários dessa ideologia viram-se diante da seguinte opção: ou aceitar o seu fim ou fazer de conta que ele continua vivo.
Sucede que, em consequência daquela derrocada, os partidos comunistas mais importantes, fora da URSS, como o francês e o italiano, a aceitaram.
Certamente, para outros partidos, sem a mesma consistência e sem o mesmo compromisso com aquela ideologia, foi mais difícil admitir que o sonho acabou. Optaram por um arremedo da opção marxista revolucionária, a que chamo de neopopulismo, ou seja, o populismo vindo da esquerda. O PT, sem outra alternativa, seguiu esse caminho.
Não pretendo afirmar que o lulismo é a mesma coisa que o chavismo, uma vez que o Brasil não é a Venezuela. E, por isso mesmo, não seria possível implantar aqui as mesmas medidas autoritárias que foram implantadas ali.
Em consequência disso, ao chegar ao poder, o lulismo teve que adotar as medidas básicas do Plano Real, do governo Fernando Henrique, que combatera ferozmente, como também a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola. Criou o Bolsa Família, que juntava aqueles programas, sob outro nome. Ao mesmo tempo, para viabilizar seu governo, financiava generosamente grandes empresas capitalistas.
Como tinha que jogar com um pau de dois bicos, obrigado a privatizar, por exemplo, os aeroportos, estabeleceu regras que inviabilizaram a transação. Por outro lado, para aparentar que não deixara de ser de esquerda, tomava atitudes, no plano internacional, sempre contrárias às dos norte-americanos.
Assim, o Brasil punha-se ao lado de regimes antidemocráticos, como o do Irã, da Líbia, da Síria. Para deixar clara sua posição antinorte-americana, chegou a convidar para visita oficial ao Brasil o iraniano Ahmadinejad, célebre por afirmar que não houve o Holocausto.
Nessa mesma linha, na última Assembleia Geral da ONU, Dilma Rousseff tomou posição em defesa do Estado Islâmico, ao propor, em vez da repressão militar, o diálogo com os fanáticos que degolam inocentes diante das câmeras de televisão.
Acrescente-se a isso as propostas que os governos petistas têm feito com o propósito de controlar a ação da Polícia Federal, do Ministério Público e das decisões judiciais.
A vitória da Dilma pode significar um fortalecimento desse esquerdismo populista e, consequentemente, a crescente restrição aos princípios democráticos que regem a vida brasileira atualmente.
A tentativa de coibir a liberdade de imprensa caracteriza esse tipo de regime, a exemplo do que acontece na Venezuela e na Argentina.
Por outro lado, se Aécio Neves vencer as atuais eleições, o projeto petista sofrerá um sério golpe, uma vez que o aparato montado pelo PT, aparelhando ministérios e empresas estatais, será inevitavelmente desmontado.
Se é verdade que o propósito petista é se eternizar no poder, a derrota de Dilma poderia significar o retorno do Brasil ao caminho sensato, sem ameaças à liberdade de imprensa e à autonomia dos órgãos do Estado, do que resultaria a entrega da máquina governamental a técnicos e funcionários competentes.
Poeta, ensaísta, critico de arte. Eleito para ABL
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