• Ele estava foragido desde a deflagração da nova fase da Operação Lava Jato
• Segundo a polícia, Adarico Negromonte Filho transportava dinheiro em sacolas para políticos do PP
Estelita Hass Carazai, Fabiano Maisonnave – Folha de S. Paulo
CURITIBA - Último foragido da nova fase da Operação Lava Jato, Adarico Negromonte Filho entregou-se por volta das 11h da manhã desta segunda-feira (24) na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Ele é irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, que é do PP e comandou a pasta entre janeiro de 2011 e fevereiro de 2012.
Adarico é apontado pela PF como "encarregado de transporte de valores em espécie" e "subordinado" ao doleiro Alberto Youssef, operador de um esquema de lavagem de dinheiro que teria desviado recursos da Petrobras para partidos políticos.
Em depoimento, Carlos Alberto Pereira da Costa, representante de uma empresa de fachada dirigida por Youssef, disse que Adarico chegou a transportar "malas e sacolas" do escritório do doleiro.
"Além do depoimento de Carlos, o nome dele como responsável pelas entregas de dinheiro é informado em troca de mensagens telemáticas entre Youssef e seus clientes", diz o juiz Sérgio Moro na decisão em que mandou prender executivos de empreiteiras e outros acusados de participação no esquema.
Cercado por jornalistas, Adarico chegou à PF de táxi, acompanhado por duas advogadas, e não fez declarações. Prestou depoimento por cerca de 1h30 e foi levado para fazer exame de corpo delito.
Questionada sobre as acusações que pesam contra seu cliente ao deixar o prédio, a advogada Joyce Roysen afirmou que ele "já prestou os esclarecimentos à Justiça", mas não detalhou o que foi dito.
Ela não deixou claro o que seu cliente fazia --apenas disse que ele está aposentado. Adarico teve a prisão temporária, válida por cinco dias, decretada no dia 14, mas estava foragido desde então. Ele era o único dos 25 alvos da sétima fase da Lava Jato com prisão decretada que ainda não havia sido preso.
Chamada de Juízo Final, a atual fase da operação investiga suspeitas de fraude em licitações na Petrobras. Agora, a carceragem da PF mantém 14 presos, a maioria executivos de empreiteiras. Outros 11 foram liberados após prestar depoimento.
O local abriga também o doleiro Alberto Youssef, novamente ouvido nesta segunda-feira dentro do acordo de delação. Ele é mantido separado dos demais presos.
A defesa de Negromonte já pediu a revogação da prisão. As advogadas argumentam que ele colaborou com a polícia, se apresentou espontaneamente, tem idade avançada (68 anos) e um estado de saúde "delicado".
As prisões de executivos são parte de uma estratégia de "tortura psicológica", na opinião do advogado Renato de Moraes, defensor de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, preso pela PF no último dia 14. Ele é suspeito de participar da distribuição de propina arrecadada em obras da estatal.
O advogado já tentou obter a soltura de Duque na Justiça Federal, sem sucesso.
"O método de hoje é a tortura psicológica. Cercear liberdade, ameaçar, prender familiares. Ou você está preso, ou ameaçado de estar preso", afirmou Moraes. "A prisão dele [de Duque] só tem um fim: tentar torturá-lo."
O advogado fez as declarações à Folha na tarde desta segunda-feira (24), em frente à sede da PF em Curitiba, onde estão presos Youssef, Duque e os executivos de empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na Petrobras.
Para Moraes, as delações feitas até aqui devem ser vistas com desconfiança. "Os acordos são nebulosos. Um estado que barganha com um suposto criminoso gera uma insegurança muito grande", disse o advogado.
Colaborou Rubens Valente, de Brasília
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