- O Globo
O governador Geraldo Alckmin foi a maior vitória da oposição e ao mesmo tempo precisa de ajuda urgente do governo Federal para enfrentar a crise da água. Numa entrevista que fiz com ele esta semana, Alckmin disse que não acha isso contraditório porque não crê que o dinheiro dos contribuintes pertença aos governos. Diz que a relação entre União e estados tem que ser republicana.
“O que caracteriza a Federação é a parceria entre entes federativos, e nós precisamos ser republicanos. O dinheiro do governo do estado não é do PSDB. É do contribuinte. O recurso federal não é do PT. Ele é do contribuinte brasileiro, é da população que paga impostos, então os recursos devem ir para onde há necessidade.”
Alckmin recebeu a mesma crítica, na gestão da água, que o governo federal recebeu na crise de energia: a de adiar medidas necessárias por causa da eleição. Ele nega que tenha feito racionamento, apesar das inúmeras vezes em que a imprensa mostrou torneiras secas em reportagens. Segundo ele, foram “questões localizadas”. Ele também não elevou o preço para quem aumentou o gasto de energia. Limitou-se a dar bônus a quem gastou menos. Isso produziu uma contradição econômica: caiu o preço do produto que está em aguda falta no estado. Nas leis da economia, o que é escasso tem que ficar mais caro. Há deflação na água em São Paulo.
Ele voltou a defender o fim dos impostos federais sobre a água. Hoje a Sabesp recolhe e transfere para o governo federal mais de R$ 600 milhões por ano em PIS/Cofins sobre água.
— Há quatro anos, em debate na campanha eleitoral, todos os candidatos — Serra, Marina e inclusive a presidenta Dilma — se comprometeram de zerar os impostos federais sobre água e saneamento. Não há imposto estadual nem municipal, mas há uma fortuna de contribuição que fica todinho com o governo federal, dinheiro que poderia ser usado para investimento. As empresas de água e saneamento são hoje arrecadadoras de impostos para o governo federal.
O governador Alckmin ganhou em 644 cidades e só perdeu em Hortolândia. Acabou com a ideia de que o ABC é reduto petista, e o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, teve 67% dos votos no estado. Se fizer um bom governo, Alckmin é uma opção para 2018. Por outro lado, nesta mesma semana, o senador Aécio Neves voltou ao Senado com um discurso forte em que afirmou que será uma oposição incansável. Perguntei a ele se será Aécio Neves o candidato do PSDB em 2018. Ele disse que “se for o Aécio, terá o nosso apoio”.
Sobre a divisão do país pós-eleição, ele culpa a forma do PT de fazer política e ao mesmo tempo elenca os vários tópicos nos quais o país precisa avançar:
— O PT faz a campanha eleitoral da divisão. Isso é populismo. É maniqueísta. A política moderna não é assim. O país só vai caminhar se todo mundo remar na mesma direção. Política não se obriga, política se conquista. Temos que conquistar todas as regiões, estados, falar ao cotidiano das pessoas, dos problemas que o país tem, como saúde, agora que a população está vivendo mais, segurança pública, combate às drogas, eficiência do gasto público.
Alckmin se pergunta:
— Como um país vocacionado para crescer está com crescimento zero? Estamos destruindo a indústria brasileira.
Ele voltou a condenar as manifestações que falaram em impeachment e na volta dos militares. Diz que o PSDB se diferenciou, condenando esse tipo de atitude. Mas diz que é preciso reconhecer que há uma crise de legitimidade política no país, que se resolve, na visão dele, com reforma política, com voto distrital, mas não se mostrou entusiasmado com o fim da reeleição.
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