Arícia Martins e Tainara Machado – Valor Econômico
SÃO PAULO - Diante da desconfiança do setor privado nas ações do governo e da perda de credibilidade da política fiscal, o Brasil precisa fazer um ajuste fiscal “extremamente pesado” que reduza as despesas do governo em cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) para reverter a situação atual, avaliou nesta sexta-feira o professor Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV).
Como, no entanto, o ajuste a ser feito não deve ser de magnitude tão expressiva, a economia brasileira deve continuar em processo de semiestagnação.
“Minha visão é pessimista. Não vamos voltar a crescer nos próximos anos”, afirmou Nakano, durante palestra no Encontro de Política Fiscal 2014.
Segundo o economista, o governo precisa fazer um ajuste por meio de corte de gastos e não via elevação de impostos, porque a carga tributária brasileira já é equivalente a cerca de 37% do PIB, patamar “extremamente elevado”.
Para esse tipo de ajuste dar certo, seria necessário uma sintonia fina entre as políticas monetária, fiscal e cambial, o que é difícil, em sua opinião.
“Se tivermos uma combinação de corte de despesas com política monetária mais frouxa, certamente o investimento privado pode ser retomado. Mas não acredito que isso vá acontecer”, afirmou.
Na visão de Nakano, o ajuste a ser feito pelo governo será mais por meio de recomposição de impostos, como a Cide e a CPMF. O controle de gastos não seria muito relevante, diz, e seria mais focado em despesas como o abono salarial, seguro-desemprego e pensões por morte. A tendência, de acordo com o professor da FGV, será cortar o Orçamento proposto para 2015, e não as despesas na comparação com 2014.
Nakano previu que o déficit nominal das contas públicas será na ordem de 5% neste ano, número que considerou ruim. Ele também se mostrou preocupado com a trajetória da dívida pública bruta, que está em tendência de alta desde 2010 e chegou a mais de 61,7% do PIB em setembro. “Somos os mais endividados entre os países emergentes”, disse.
O diretor da escola de economia ainda se mostrou pessimista com a trajetória do crescimento econômico do país no longo prazo. Para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro voltar a crescer a uma média anual de 4%, a taxa de investimento precisa subir para 25% do PIB, calculou, sendo 7 pontos referentes somente ao investimento em infraestrutura. “Com o governo que temos, com a burocracia que temos, isso é praticamente impossível.”
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