• Três nomes estão cotados; PT confirma candidato para se contrapor a Cunha, acusado de agir como oposição
Júnia Gama e Eduardo Barretto – O Globo
BRASÍLIA — Aproveitando o racha na base aliada, o PSDB está costurando apoio a um candidato alternativo para disputar a presidência da Câmara. A ideia é ter um nome que represente as forças políticas que se uniram em torno de Aécio Neves (PSDB-MG) na eleição presidencial para oferecer reciprocidade e aglutinar a oposição pelos próximos anos. Nesta quinta-feira, em mais uma demonstração do tamanho da divisão entre os aliados da presidente Dilma, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), confirmou que o partido terá um candidato próprio e rejeitou acordo para apoiar o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), a quem acusou de agir como oposição.
Os nomes cogitados até agora para a “terceira via” na qual aposta Aécio são os dos deputados reeleitos Júlio Delgado (PSB-MG) e Miro Teixeira (PROS-RJ) e do senador e deputado eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Os três são figuras simbólicas para a cúpula tucana porque representam os espólios do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e da ex-senadora Marina Silva, derrotada no primeiro turno da eleição para presidente.
Os grupos de ambos estiveram com Aécio no segundo turno da eleição, e o senador tucano pretende fazer gestos aos aliados para agradecer o apoio e evitar a dispersão daqueles que se opuseram à reeleição de Dilma. O mais forte até o momento é Júlio Delgado, que disputou a presidência da Casa em 2013, pouco antes de o PSB deixar a base governista, e já trabalha para se candidatar novamente.
Além dos partidos da oposição tradicional, os tucanos contam com os dissidentes da base aliada para aumentar a votação da “terceira via” e levar a disputa pelo comando da Câmara ao segundo turno. Pelas contas mais otimistas do PSDB, será possível reunir cerca de 170 votos para este candidato. Tucanos apostam que até petistas que se sentirem preteridos podem migrar para essa candidatura. Caso a iniciativa não vingue e o segundo turno acabe sendo entre Eduardo Cunha e um nome do PT, a cúpula tucana pretende direcionar os votos para o peemedebista. A pior hipótese, dizem, é ter o PT na presidência da Câmara.
Mercadante: clima favorável
Na quinta-feira, o deputado Vicentinho anunciou que o PT irá apresentar um candidato à presidência da Câmara para a próxima legislatura. Vicentinho disse que não há possibilidade de diálogo com Eduardo Cunha para um consenso entre os dois maiores partidos da base e o acusou, indiretamente, de agir como oposição:
— Não (vamos conversar com Cunha). Jamais vamos concordar com qualquer candidatura que signifique uma postura de oposição. Como vamos ter uma candidatura que tem atitude contrária às suas orientações partidárias, com atitudes individuais? Nós aqui somos coletivos. Cada um que faça o movimento que queira fazer, mas nós seremos muito firmes nesse propósito.
Vicentinho afirmou que o PT não irá voltar atrás na decisão e anunciou que uma comissão foi criada para ouvir deputados da base e da oposição na sucessão do comando da Câmara. O líder do PT acusou integrantes do PMDB de agir mais como oposição que PSDB e DEM.
— Se o partido é da base do governo, como é que algumas pessoas agem como oposição? Não é só sobre este ou aquele projeto. É oposição na eleição, que é muito mais grave, uma oposição permanente e sistemática, mais que PSDB e DEM. Alguma coisa precisa ser corrigida — atacou.
A despeito do ambiente de guerra na Câmara, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, afirmou ontem que, para a próxima legislatura, espera um Congresso “parceiro”, e aposta em um clima favorável do Senado e da Câmara com o governo. Apesar de uma oposição com maior potencial de atuação para o ano que vem, Mercadante se mostrou otimista e disse que na base há clima de comemoração dos resultados das urnas:
— A presidenta tem feito reunião com todos os partidos da base. Fez um encontro ontem com o PSD, vai fazer com o PT hoje, e vai fazer com todas as bancadas, saudando a nossa vitória, preparando a retomada do novo ano legislativo, para nós, novos parlamentares que foram eleitos. E nós estamos comemorando, celebrando uma vitória que foi muito importante no reconhecimento desse trabalho de quatro anos, mas também de mais mudança, de corrigir o que está errado, de avançar o que tem que avançar.
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