• País passará em 2015 por ajustes mais duros do que o necessário caso a condução da política econômica tivesse sido menos inepta
O Banco Central deu rara indicação enfática e precisa de que pretende reduzir a taxa de inflação à meta oficial de 4,5% até o final de 2016. A entidade, nos termos de relatório divulgado na semana passada, fará o que "for necessário" a fim de atingir tal objetivo.
Trata-se de dizer, na prática, que as condições de crédito serão ainda mais apertadas no ano que vem, e não apenas pelo caráter mais decidido dos planos divulgados pela autoridade monetária.
No mesmo documento, apresentaram-se novas estimativas de altas de preços para 2015 e 2016, maiores que em relação às do trimestre anterior. Além do mais, haveria pressões inflacionárias adicionais que em tese não seriam contrabalançadas por uma taxa básica de juros, a Selic, no atual patamar.
Em suma, a elevação dos juros terá de ser maior do que a prevista; o percentual permanecerá em nível elevado durante mais tempo do que se calculava. A Selic deve ultrapassar os 12,5% registrados pela última vez em 2011.
O dólar mais caro não é o único fator que tende a impulsionar preços além do que se considerava até meados do ano. Também contribui para isso o fim do represamento de tarifas de serviços públicos e de combustíveis, processo que deve se desenrolar em 2015.
O excesso de gastos públicos em 2014 ainda terá efeitos no ano que entra. Apesar da visível desaceleração do aumento do nível de emprego, a baixa taxa de desocupação pressiona os custos salariais.
Por fim, anos de descumprimento da meta de inflação e a perspectiva de reajustes de tarifas fundamentais têm mantido em nível elevado as expectativas de alta dos preços, o que por sua vez realimenta o ciclo vicioso.
Foi portanto descartado o discurso que era o do Banco Central até algumas semanas atrás, de aumentar os juros com "parcimônia".
Em tese, tal atitude vai contribuir para manter a economia em um ritmo de baixa atividade, semelhante ao deste ano. Recorde-se que, teoricamente, também pelo lado da despesa pública não haverá estímulos adicionais, pois o Ministério da Fazenda prometeu encerrar o ciclo de expansão de gastos dos últimos anos.
Causa apreensão e pesar que o país tenha de passar por outro ano de durezas, ainda mais porque a procrastinação inepta e populista exigirá sacrifícios maiores que os necessários caso estivéssemos sob um regime de política responsável.
Espera-se ao menos que a nova equipe econômica cumpra à risca os planos de ajuste, de modo que antes do final de 2015 a atividade produtiva se recupere e o Brasil possa voltar a pensar no futuro, depois de quatro anos perdidos.
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