- Folha de S. Paulo
Dilma Rousseff informou ontem que não terá a palavra final na montagem de seu novo ministério. A nomeação de cada auxiliar dependerá do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pelos planos da presidente, ele fará hora extra no fim do ano como avalista dos escolhidos para a Esplanada.
A ideia é simples: a cada vez que um partido indicar um ministeriável, Dilma ligará para Janot. Ele consultará sua lista e dirá se o aliado está entre os suspeitos de desviar dinheiro da Petrobras. Assim, a presidente se verá livre do constrangimento de nomear um ministro e ter que demiti-lo logo depois, quando a denúncia da Operação Lava Jato vier a público.
"Para qualquer nomeação, nós pelo menos consultaremos o procurador", explicou Dilma, no tradicional café da manhã natalino com jornalistas no Palácio do Planalto.
"Qualquer pessoa que eu for indicar, eu consultarei o que tem quanto à pessoa. Eu não quero que ele me diga o que. Eu só quero que ele me diga sim ou não, mais nada."
Se Brasília fosse a Roma Antiga, o procurador seria o César no Coliseu. A sorte de cada indicado dependerá de seu gesto da tribuna. Polegar para cima, ministro nomeado. Polegar para baixo, ministro dispensado.
Está claro que o objetivo de Dilma não é prestigiar Janot, e sim usá-lo como escudo contra a fúria de aliados incômodos. Aquele deputado do PMDB não será ministro da Previdência? Culpa do procurador. O ex-governador bonachão não vai controlar o orçamento do Esporte? Sinto muito, foi o Janot que não deixou.
Conveniências à parte, é curioso que a presidente recorra ao Ministério Público para escolher o primeiro escalão de sua equipe. Em tese, o Planalto já paga as contas da Abin para evitar surpresas desagradáveis, como a prisão de auxiliares recém-nomeados. A experiência do primeiro ano do governo, quando Dilma foi obrigada a demitir seis ministros suspeitos de corrupção, sugere que esse filtro não é tão confiável assim.
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