Os 50 anos da destituição do presidente da República João Goulart foram lembrados neste 2014 por um variado conjunto de atividades, eventos, matérias preparadas pela mídia televisiva e pelos jornais; debates, mostras, publicações diversas, incontáveis artigos e vários livros sobre o regime de 1964 e sua repressão. A ditadura cassou mandatos de parlamentares, governadores e prefeitos, suspendendo os direitos políticos de muitos deles e de lideranças político-partidárias, demitiu funcionários públicos jubilou estudantes com base no decreto 477, e fechou o Congresso Nacional. A ditadura prendeu, provocou um grande número de exilados, torturou presos e desapareceu com opositores de diferentes filiações partidárias, ideologias e crenças religiosas.
Ao se encerrar 2014, vem em boa hora o lançamento, no final de outubro passado, na reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-graduação em Ciências Sociais), da coletânea chamada 1964 – As armas da política e a ilusão armada, sob o selo da Fundação Astrojildo Pereira, de Brasília. O livro, de 505 páginas, tem como foco principal a natureza política da resistência à ditadura e o seu objetivo de recuperar as liberdades democráticas. Muitos dos seus textos versam sobre os anos do governo de João Goulart e sobre o caráter do regime de 1964; e discutem a eficácia da estratégia de luta contra a ditadura por meio da política e o equívoco da luta armada daquele tempo.
Essa ida ao passado, em 2014, revela que reflexões sobre os anos de João Goulart, e particularmente sobre a resistência política à ditadura, têm muita relevância para pensarmos o presente momento. Essa ida ao passado traz até nós as histórias políticas – hoje esmaecidas – de cada uma dessas épocas. A do tempo democrático e reformista de João Goulart chama a atenção para o cenário de conspiração golpista, de radicalização das esquerdas e dos impasses com que se deparou o presidente. O seu isolamento político precipitou sua destituição em março de 1964. A história política do período ditatorial traz até nossos dias as adversidades da luta contra a ditadura, suas experiências e seus ensinamentos. E relembra a repressão dura e violenta daqueles anos autoritários, para que não volte nunca mais.
As mais numerosas e diversas atividades desenvolvidas neste ano de 2014 são oportunas no momento atual. O Brasil vive, sob o Estado democrático de direito pleno, amplas liberdades e tem instituições democráticas. Mas ainda falta consolidar entre nós uma cultura política democrática, cujas raízes estão nos 21 anos da resistência política ao regime de 1964.
Raimundo Santos, professor da UFRRJ. Rural Semanal, UFRRJ, 1 a 7 de dezembro de 2014.
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