• Dissidente do PMDB diz que PT deixou ética de lado e que cenário do país é de filme de terror
Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA- Um dos mais ácidos críticos do governo, dissidente no PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), fez ontem um discurso de despedida do Senado com duros ataques ao Planalto e aos escândalos de corrupção do governo petista. Ele disse que não se considera um pessimista, mas diz que, em vez do "País das Maravilhas" da propaganda governamental, o cenário atual está mais para um "filme de terror" . Jarbas troca a tribuna do Senado pela tribuna da Câmara dos Deputados, na próxima legislatura , de onde deve continuar integrando o grupo que faz a mais dura oposição ao governo .No longo discurso, com apartes de apoio de outros senadores que integram o grupo dos independentes, Jarbas disse que a política perdeu com a degradação dos governos do PT , que deixou de lado a ética que professava quando estava na oposição para lutar pela permanência no poder usando todas as armas que estiverem ao alcance.
Lembrando a pequena margem de votos que levou à derrota do candidato da oposição Aécio Neves, Jarbas disse que a "maioria" — somando os aecistas com os nulos, em branco e ausentes — não aprovou o governo da presidente Dilma Rousseff. Sobre o esquema de desvios na Petrobras, acusou de crime de lesa-pátria o escândalo.— Vai demorar anos para a empresa retomar a tranquilidade necessária para enfrentar os desafios que não são apenas dela, mas que envolvem o nosso próprio futuro como nação.Mesmo na oposição, nunca me comportei pela máxima do "quanto pior, melhor". Tenho responsabilidades com Pernambuco e com o Brasil. Mas me nego a concordar com essa flexibilidade ética que o PT busca implantar no Brasil, deque o mesmo erro pode ser repetido pela enésima vez, sem consequência alguma — disse Jarbas. Jarbas criticou a intenção do governo e do PT de fazer uma reforma política de "faz de conta ", que foi prometida pelo ex-presidente Lula e por Dilma, e nunca feita.
—Porém, a palavra mágica agora é "plebiscito", indicando claramente que o PT pretende implantar o modelo "bolivariano ", já em funcionamento em países como Venezuela , Equador e Bolívia. Esse modelo, senhor presidente , começa justamente tentando esvaziar o poder da democracia representativa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e, paralelamente, busca coibir a liberdade da imprensa. As comemorações pela vitória apertada da presidente da República foram marcadas por ataques aos meios de comunicação , um setor que ainda resiste , felizmente , ao "modo petista " de governar — disse Jarbas . Jarbas lembrou as dificuldades enfrentadas no PMDB para exercer seu mandato, por se aliar a oposição contra o governo do PT , que tem Michel Temer como vice-presidente.
Mas disse que não se arrepende. E criticou o adesismo do PMDB em troca de cargos: — Não guardo mágoa. Não abriria mão de minhas convicções para estar em sintonia com a prática do "é dando que se recebe", de uma prática que resultou na série de escândalos de corrupção, nos últimos 12 anos, do mensalão a esse mais recente , que destrói a Petrobras. Jarbas encerrou seu longo pronunciamento prometendo manter o mesmo tipo de atuação na Câmara:—Nossa luta agora é para impedir que o Brasil perca as conquistas dos últimos 30 anos. Como deputado federal representando o povo de Pernambuco,não me calarei diante das tentativas de esvaziar a força da democracia representativa; não ficarei omisso quando tentarem calar a imprensa; não fugir ei do embate para impedir o controle hegemônico das instituições democráticas.
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