Cristiane Agostine – Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivou ontem catadores de material reciclável a cobrar a presidente Dilma Rousseff por mais benefícios. Lula afirmou que tem dito à presidente Dilma que quem está no governo precisa saber "de que lado está" e para quem deve priorizar os programas de política pública.
Ao participar da inauguração da ExpoCatadores 2014, na capital paulista, o ex-presidente pediu pressão sobre o segundo mandato de sua sucessora. "Dilma vai vir aqui conversar com vocês e vai receber 500 reivindicações. Quando sair daqui, vai para outra reunião e vai ter mais reivindicações. Depois vai para outra e mais um monte de reivindicações. De noite, na casa dela, é tanta reivindicação que não vai saber mais qual é a primeira e qual é a última", afirmou. "O mais esperto é quem ganha e quem é o mais esperto? É quem cobra. Então, por favor, nos cobrem, porque assim teremos consciência que vamos continuar fazendo muito mais por vocês", disse. Dilma deve participar amanhã da feira.
A declaração de Lula foi feita no momento em que movimentos sociais, intelectuais e militantes têm cobrado uma guinada mais à esquerda de Dilma no segundo mandato. Os apoiadores da presidente têm reclamado de indicações feitas para os ministérios, como a de Joaquim Levy para a Fazenda e de Kátia Abreu para Agricultura.
O ex-presidente relatou que em conversas "antes, durante e depois das eleições" com Dilma, disse à presidente que governar "tem muitos problemas", mas "que eles serão menores se a gente souber de que lado a gente está", para "onde vai" e quem deve priorizar". Em seguida, disse que o governo precisa olhar para os "mais carentes e necessitados".
O ex-presidente defendeu a gestão do prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), e atacou as administrações anteriores à do petista. Aos catadores, Lula disse que eles sabem "a diferença" que Haddad faz na vida deles. "Uma coisa é um prefeito que tem coragem de conversar, de encarar o problema e buscar solução. Outra coisa é um prefeito que manda a polícia com carro dos bombeiros para jogar água, a uma da madrugada, em pessoas que estão dormindo na rua", disse. "Estão dormindo lá por necessidade. Ninguém dorme na rua por orgulho ou por prazer".
Horas depois, em um evento organizado pelo PSOL na capital paulista, a candidata do partido derrotada à Presidência, Luciana Genro, disse que a esquerda fará a maior oposição nos próximos anos ao governo Dilma. Luciana atacou a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda e criticou a mudança do discurso da presidente em relação ao que foi defendido na campanha eleitoral.
"As sinalizações que o governo deu deixam muito claro o que já dizíamos na campanha eleitoral: se não houver pressão, mobilização, Dilma iria fazer exatamente a mesma coisa que o Aécio. E é isso que está se desenhando", afirmou Luciana, que terminou a disputa presidencial em quarto lugar, com 1,6 milhão de votos. "A indicação de Levy significa uma política econômica totalmente voltada para o mercado financeiro".
Pouco antes do evento "Seguir a Luta por Mais Direitos", organizado pelo PSOL em um clube a poucos metros da sede nacional do PT, Luciana disse que nos próximos anos deve haver uma forte pressão popular sobre Dilma. "A oposição que vai se fortalecer nos próximos anos é a oposição de esquerda. É isso que vamos buscar fortalecer", afirmou Luciana, que é pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre em 2016.
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