Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Relator do projeto de lei que permite ao governo abandonar o superávit primário de 2014, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) considera "pedagógica" a crise provocada pelo não cumprimento da meta - que forçou a presidente Dilma Rousseff a propor ao Congresso a mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ser acusada pela oposição de "estelionato eleitoral". Além de ajustar a meta de 2014, o governo está projetando 2015 "com mais realidade", com metas macroeconômicas "factíveis".
Para ele, Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa no Planejamento formam a "dupla corte e costura". Uma escolha "tecnicamente perfeita", na sua opinião. Mas prevê um 2015 de mais dificuldades para Dilma e a necessidade de "esforço fiscal diário".
"Levy vai cortar e Nelson vai costurar economicamente, tentando induzir crescimento onde é mais factível. Conhece bem isso", diz. "É uma guinada da orientação econômica do governo. Eu defendi superávit de 1% do PIB para 2015 e Joaquim Levy [ministro da Fazenda anunciado] colocou 1,2%. Está na margem. A meta de inflação para o ano (6%) e a taxa de juros (11,5%) também são factíveis. Eu diria que foi um bom início."
Operador frequente de projetos de interesse do governo no Congresso, principalmente de temas econômicos, Jucá defende que seu partido abandone a "posição subalterna" em relação ao PT e não participe do governo no segundo mandato de Dilma se não tiver maior protagonismo na gestão e na definição das políticas. O senador integra a corrente do PMDB que prega maior independência da sigla e a busca de um "caminho próprio".
"O PMDB pode não participar do governo, dependendo do tipo de relação que se crie. O que o partido não pode é ficar numa posição subalterna e ser o mordomo, que é culpado de tudo. A relação com o PT tem sido politicamente desvantajosa para o PMDB. No confronto, tem sobrado estilhaço para a gente."
Economista, sempre designado pelo PMDB para negociar - tanto com o governo quanto com a oposição- projetos estratégicos ao Palácio do Planalto, pela habilidade na operação política e trânsito nas outras legendas, Jucá defende que o partido tenha participação efetiva na gestão e na definição política, econômica e de políticas públicas. Ele integra a corrente do PMDB que prega independência cada vez maior em relação ao PT.
"Não é indicar o nome de um ministro. O PMDB não pode estar atrás de emprego de ministro. Participação não é ter cinco pessoas com DAS 7 [remuneração mais alta do funcionalismo público]. Não é essa a discussão que o PMDB tem que ter", diz o ex-líder do governo nas gestões de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e da própria Dilma.
Com o cuidado de deixar claro que não fala pelo PMDB, embora seja um dos vice-presidentes da sigla, o segundo vice-presidente do Senado Federal e um dos senadores mais próximos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Jucá diz que, antes de levar nomes à presidente, o PMDB deve "discutir a relação com o PT e com a Dilma".
"Discutir a relação é definir, preto no branco, qual é o papel de cada um e o que cada um espera do outro. Tem que ter clareza nisso. A clareza que a gente cobra na questão econômica também tem que ter na questão política", afirma o senador. Para ele, seu partido "tem que vislumbrar o futuro e não pode ficar só agarrado ao presente". Jucá acha que o PMDB pode "apoiar o país no Congresso e ficar mais independente na questão administrativa", se não ficar definido um papel "preponderante" no governo.
Ainda trabalhando para tentar aprovar o polêmico projeto de lei do Executivo que muda a LDO para permitir que o governo descumpra a meta de superávit primário deste ano, Jucá acredita na capacidade da nova equipe econômica de realizar ajustes fiscais necessários e recuperar a credibilidade do país.
Jucá votou no senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência da República, assim como parte expressiva das lideranças do partido no país. No caso do vice-presidente do Senado, o argumento principal para não seguir a orientação da cúpula - a favor da reeleição de Dilma e seu vice-presidente, Michel Temer, presidente nacional do PMDB - era a crítica à política econômica, considerada "equivocada" por ele.
Renan marcou para amanhã nova sessão do Congresso para votar o projeto que muda a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), para permitir o descumprimento do superávit. Nas duas tentativas feitas, a oposição lançou mão de manobras regimentais para atrasar, e faltou mobilização da base governista para dar quórum. Para ele, embora haja prazo, já que o governo tem até 30 de dezembro para "fechar as contas", a aprovação deve ser rápida para acabar com a "celeuma" do superávit.
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