André Guilherme Vieira, Letícia Casado e Assis Moreira - Valor Econômico
CURITIBA e LAUSANNE - Os integrantes da força-tarefa da operação Lava-Jato retornaram da Suíça munidos de extratos bancários que contêm rastros deixados por operadores de partidos políticos. Com os documentos, já é possível identificar parlamentares brasileiros que receberam propina paga com recursos da Petrobras, apurou o Valor.
Dezenas de parlamentares suspeitos de integrar o suposto esquema de corrupção na Petrobras foram mencionados pelo delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal. Costa e o doleiro Alberto Youssef disseram que lidavam com operadores de PT, PMD e PP. Os partidos negam ligação com o esquema de propina na Petrobras.
Os documentos, protegidos por sigilo bancário, encontrados na Suíça são considerados reveladores, dizem pessoas ligadas ao caso. Procurados pela reportagem, os procuradores evitaram responder sobre o material suíço ao qual tiveram acesso ou se conseguiram identificar outros operadores; tampouco disseram a quais partidos pertenceriam essas pessoas. Com as indicações fornecidas por Paulo Roberto Costa, porém, sabe-se que o trabalho de vasculhar dados bancários foi facilitado.
O sucesso da missão suíça foi comunicado ao relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki. Ele cercou-se de especialistas em lavagem de dinheiro e crimes transnacionais e está preparado para julgar os "agentes políticos", uma vez que deputados e senadores gozam de privilégio constitucional e só podem ser processados criminalmente pelo Supremo.
No entanto, a consolidação das evidências do envolvimento de deputados federais e senadores com esquema de cartel e superfaturamento na petrolífera depende de documentação adicional. Os papéis não foram disponibilizados aos procuradores brasileiros durante a viagem. O acordo de cooperação internacional Brasil-Suíça prevê a necessidade de envio de ofício formal de requisição.
Detalhes fornecidos pelo também delator Alberto Youssef foram essenciais para entender a trama de operações financeiras, dizem fontes ligadas ao caso. A avaliação é que Youssef inovou ao utilizar operações comerciais simuladas para evadir dinheiro do país.
Representantes do Ministério Público suíço ficaram impressionados com o volume de dinheiro movimentado em mais de 150 contratos de prestação de serviços firmados entre empreiteiras investigadas e as empresas de fachada de Youssef, apurou a reportagem. Ao todo, mais de R$ 11 bilhões foram movimentados pelo esquema, segundo a Polícia Federal.
A dimensão do escândalo da Petrobras deixou os suíços em alerta; eles planejam vir ao Brasil em 2015 para ter acesso aos autos da investigação brasileira.
Na decisão em que decreta a prisão dos executivos das empreiteiras, emitido em 10 de novembro, o juiz Sergio Moro, que conduz o processo da Lava-Jato, relata que as companhias "formariam uma espécie de cartel, definindo previamente as vencedoras das licitações da Petrobras"; assim, elas cobravam preços mais altos pelos serviços e pagavam um percentual de 2% ou 3% sobre o valor dos contratos "a agentes públicos". (Colaborou Andrea Jubé, de Fortaleza)
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