sábado, 16 de agosto de 2014

Fernando Rodrigues: Política inorgânica

- Folha de S. Paulo

Tudo indica que Marina Silva será a candidata a presidente da República pelo PSB. Substituirá Eduardo Campos, morto no acidente aéreo da última quarta-feira (13).

Para além do impacto eleitoral, a tragédia e a possível unção de Marina servem também como um alerta renovado sobre a falta de organicidade na política brasileira.

Uma das falas de Hamlet a respeito da morte é a conhecida "estar pronto é tudo" ("readiness is all"). Parece-me uma exigência dificílima para qualquer um. Só que os partidos e os políticos brasileiros exageram e vivem no limite da falta de planejamento para momentos adversos.

É notória a fragilidade das agremiações políticas. O drama vivido pelo PSB torna a legenda epítome dessa debilidade. A sigla dependia de Eduardo Campos como precisamos todos de oxigênio para respirar. A morte do pernambucano mostrou um agrupamento mergulhado em interesses paroquiais. Cada um pensando na sua sobrevivência eleitoral local. Nem de longe a maioria dos pessebistas se assemelha ao discurso campista da nova política.

A própria escolha de Marina Silva, se vier, será apenas pragmática. Um nome com robustez eleitoral na disputa pelo Planalto é útil aos candidatos a deputado pelo PSB. Vão acelerar suas campanhas, entrando no vácuo produzido pelo rastro marinista --e pela exposição do número 40, o do PSB, que serve a todos na urna eletrônica.

Mesmo com todas as divergências que possam existir entre Marina e o PSB, o projeto com ela candidata tende a dar ao partido uma bancada maior a partir de 2015. Mas a pergunta é: para quê? Esse exército de políticos, cada um pensando de uma forma, estará unificado no Congresso em torno da proposta central que uniu Marina a Eduardo Campos?

Perto de completar 30 anos de democracia formal, o Brasil ainda está longe de conviver com instituições político-partidárias maduras.

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