• Com disputa acirrada com o PMDB pela Presidência da Câmara e pautas impopulares, partido de Dilma começará o ano defendendo medidas contestadas pelos sindicados
Edla Lula – Brasil Econômico
O ano legislativo, que começa em 15 dias, promete não ser nada fácil para o PT, principal suporte da presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Além da disputa para a Presidência da Câmara, acirrada como não se vê desde que Severino Cavalcanti ascendeu ao cargo, em 2015 a bancada governista terá, no início dos trabalhos, a difícil tarefa de aprovar medidas impopulares, como as duas Medidas Provisórias da minirreforma previdenciária. Além disso, a oposição promete apresentar nos primeiros dias o requerimento para abertura de uma nova Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar a Petrobras. No caso da disputa pela chefia da Casa, PT e PMDB, as duas maiores bancadas e principais partidos da base, estão em lados opostos com Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na disputa.
Há ainda a terceira via: Julio Delgado (PSB-MG), com apoio declarado de PSDB, PPS e PV. Embora Cunha seja visto como favorito, por ter apoio de partidos como o DEM e dos chamados nanicos, o PT aposta na dissidência dentro do próprio PMDB e até partidos da oposição a favor de Chinaglia. Como o voto é secreto, não haverá como detectar traições. "O poder do presidente da República é muito forte. Os governistas têm muitos mecanismos para convencer os parlamentares", observa o professor de ciência política da UnB João Paulo Peixoto. Por entender que o governo tem usado sua força para convencer os parlamentares, Cunha promete agir como oposição, caso seja atropelado pelo concorrente.
Tanto que foi necessário o presidente do seu partido e vice-presidente da República, Michel Temer, fazer declarações públicas de apoio ao "poder congressual" do partido, para demonstrar que assuntos de Executivo e Legislativo não se misturam. "Existe claramente uma crise entre o governo e o PMDB no Congresso. O gesto de Michel (Temer) tenta impedir que a crise aumente. Vai aumentar se o governo usar a força para influenciar por um entre dois partidos de sua base", disse um peemedebista que preferiu não se identificar. Cunha tem dito que, se eleito, não atuará contra o governo, mas de maneira "independente".
Porém, pelo histórico da sua relação com o Planalto, a avaliação é de que ele será uma pedra no sapato do governo. Ele já informou, por exemplo, que apoiará a criação da CPMI da Petrobras, eleito ou não. O deputado José Guimarães (PTCE) diz que o PT não teme as ameaças. "Estão dando a Cunha uma força e uma dimensão que ele não tem. Ele é um deputado normal, como outro qualquer, e passará pela disputa como deve ser", assegura ele, segundo quem não é verdade que Cunha tenha nas mãos a maior parte do chamado baixo clero. A disputa se dará no domingo, dia 1º de fevereiro, e deverá entrar pela madrugada. Isso porque o processo de eleição só terá início às 18h. Antes disso, às 10h haverá a posse da nova legislatura e, no início da tarde, a composição dos blocos concorrentes. Para se tornar presidente, o candidato terá que conseguir 257 votos em primeiro turno.
Caso não consiga, haverá segundo turno entre os dois mais votados. É o que deve acontecer. "Será uma competição difícil. Por isso a tendência é que haja segundo turno", comenta Guimarães, um dos principais articuladores da campanha petista. Após a escolha do presidente, haverá disputa por duas vice-presidências e quatro secretarias, além de quatro suplências de secretaria. A sessão legislativa terá início no dia 2 de fevereiro, como determina a Constituição, e já terá que contar com a Mesa Diretora. Ainda que Chinaglia seja o vencedor, na segunda sessão a tensão governista prosseguirá, com a oposição e boa parte do PMDB se colocando contra as pautas de interesse do Planalto.
"Não será um ano fácil para o PT. Mesmo com medidas impopulares, o partido terá que arcar com a responsabilidade e defender o governo", aponta Peixoto. Para o cientista político, mesmo que as Medidas Provisórias 664 e 665, que alteram direitos trabalhistas como o seguro-desemprego e a pensão por morte, pareçam impopulares, o PT deve tentar convencer a opinião pública de que são medidas justas, porque corrigem distorções na lei: "Como apoio da opinião pública, será muito difícil que os deputados votem contra as medidas só para fazer oposição".
Nenhum comentário:
Postar um comentário