• Ex-diretor da estatal que teria recebido propina milionária, declarou à PF que compra foi feita ‘fora do procedimento licitatório’; na época, diretoria era presidida por Sérgio Gabrielli.
Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo
O ex-diretor da área de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró afirmou nesta quinta-feira, 15, que a compra dos navios-sonda de perfuração marítima, que teriam sido alvo de propina de US$ 30 milhões para a força-tarefa da Operação Lava Jato, foi feita “fora de procedimento licitatório” e aprovada pela Diretoria Executiva da estatal, “composta por seis diretores e o presidente, a quem cabe examinar a compra de equipamentos e construção de refinarias e gasodutos”.
O depoimento, com duração de cerca de três horas, foi prestado à Polícia Federal, em Curitiba. Cerveró, preso desde terça-feira, é acusado de tentar ocultar patrimônio após ser denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro em esquema investigado pela Lava Jato.
Na época da compra dos navios-sonda, o presidente da Petrobrás era José Sergio Gabrielli, apadrinhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Gostaria de esclarecer de forma espontânea que a aquisição das sondas em questão se deu fora de procedimento licitatório, por ser incabível diante das circunstâncias que cercavam o negócio, que visava atender uma necessidade específica e imediata da Petrobrás”, disse Cerveró, acrescentando que o negócio recebeu parecer jurídico favorável da estatal.
Fernando Baiano. Cerveró foi questionado, em especial, sobre seu envolvimento com outro réu da Lava Jato, Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele respondeu que o “conheceu por volta do ano de 2000, quando era gerente executivo de Energia” da Petrobrás e que ele teve participação ativa no negócio das sondas. Baiano é apontado como operador do esquema de propinas para o PMDB, com intermediação de Cerveró.
“Fernando representava empresas espanholas do ramo de energia térmica”, afirmou a quatro delegados da Polícia Federal. O ex-diretor lembrou que, nesse período, o País passava por uma crise de abastecimento e apontou a Union Fenosa como empresa representada por Baiano, que continuou atuando na Petrobrás, diz Cerveró, “tendo se dirigido a outras diretorias, como a de Abastecimento e Gás e Energia”.
A primeira era ocupada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, por intermédio do PP. Preso em março de 2014, ele virou delator do caso. A de Gás e Energia era ocupada pela atual presidente da Petrobrás, Graça Foster. Sua única referência à executiva foi quando perguntado sobre as transferências de imóveis que ele fez para as filhas, um dia antes de se tornar réu em ação penal da Lava Jato. “A atual presidente da Petrobrás realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela”.
Cerveró negou ter recebido propina nas negociações dos navios, que teriam resultado em uma comissão de US$ 30 milhões paga pelo executivo Julio Camargo, delator do processo.
Com a palavra, José Sérgio Gabrielli:
Presidente da Diretoria Executiva da estatal na época das compras dos navios-sonda, José Sergio Gabrielli afirmou, por meio de nota, que desconhece o pagamento de propinas apontadas pelas investigações da Lava Jato e que as decisões sobre as contratações feitas na época foram coletivas. “O presidente da companhia, isoladamente, não tem poderes para aprovar processos de contratação. As decisões são coletivas e de responsabilidade da diretoria executiva”, diz a nota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário