• Mesmo depois de iniciada a Lava-Jato, o esquema de propinas na Petrobras continuou a operar, sinal de que as investigações não eram levadas a sério
Depois que o então deputado Roberto Jefferson, do PTB fluminense, denunciou o mensalão em entrevista à “Folha de S.Paulo”, não se acreditou que o escândalo pudesse ter algum desdobramento concreto. Pois o governo Lula tinha na retaguarda ampla base parlamentar — como Dilma —, pronta para barrar qualquer ameaça no Congresso.
Mas uma CPI avançou, a dos Correios, fatos se sucederam, e a Câmara cassou os mandatos de Jefferson, também mensaleiro, e do principal acusado naquela “organização criminosa” montada a fim de transferir dinheiro público — mas não só — para azeitar aquela mesma base no Congresso, o ex-ministro-chefe da casa Civil José Dirceu. Transcorria 2005. Dois anos depois, o Supremo Tribunal aceitaria denúncia do Ministério Público contra os mensaleiros. No final, Dirceu e companheiros foram condenados à prisão, entre outros, mesmo destino de Jefferson.
Mas a ideia de que escândalos de corrupção na área federal podem dar em nada parece persistir. Ao menos é o que dão, ou davam, a entender implicados no petrolão, um caso de contornos iguais ao mensalão, porém de cifras bem maiores.
Nas justificativas do Ministério Público Federal do Paraná para pedir a prisão preventiva do ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, afinal concedida, é dito que o esquema montado com a finalidade de dragar dinheiro da estatal — para políticos, partidos e funcionários da empresa — continuou a funcionar mesmo depois de ser lançada a Operação Lava-Jato, em 2014, responsável por desbaratá-lo.
Registra-se, ainda, que o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, outro da engrenagem do esquema, hoje em prisão domiciliar, continuou a receber propinas até 2014, apesar de ter deixado a estatal em 2012. A organização criminosa do petrolão contava, portanto, com mais gente dentro da Petrobras — de fato —, e não parecia muito preocupada com Polícia, Justiça e MP.
Porém, na dúvida, Cerveró — que continuou a negar seu envolvimento no petrolão — tomou providências para passar a familiares patrimônio imobiliário e dinheiro, motivo pelo qual terminou detido ao chegar ao Rio, de primeira classe, vindo de Londres.
Na outra importante vertente do escândalo, as empreiteiras, das quais há também executivos em prisão preventiva, repetem-se tentativas de se escapar de punições. Inclusive com ameaças. Em sua última edição, “Veja” reproduziu trechos de manuscritos de Ricardo Ribeiro Pessoa, da empreiteira UTC, um dos que estão sob custódia da PF. Neles, há registro de supostos temores do PT pelo fato de as empresas do esquema terem contribuído para a campanha de Dilma. Existem sinais de que elas também atuam, em Brasília, junto à Controladoria Geral da República e ao Tribunal de Contas da União. Mas o retrospecto do mensalão não lhes é favorável. E ainda falta muito a se saber sobre este escândalo.
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