terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Entrevista - Eduardo Cunha

PMDB vai questionar na Justiça criação de partidos

• Novo presidente da Câmara dos Deputados diz que governo acreditou em 'papai noel' ao prever que poderia derrotá-lo

Andréia Sadi / Natuza Nery – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dia após ser eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) bateu duro na articulação política do governo, chamando-a de "atrapalhada", e criticou o patrocínio do Planalto a novos partidos, como o novo PL que o ministro Gilberto Kassab (Cidades) pretende criar.

Em entrevista exclusiva à Folha, o deputado, de 56 anos, disse que o PMDB contestará as novas legendas.

"É absolutamente incoerente o governo defender a reforma política e estimular a criação de partidos fictícios."

Sobre a derrota imposta ao candidato do PT, Arlindo Chinaglia, afirmou: "Só o governo, através do seu articulador Pepe Vargas, acreditava em Papai Noel". A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha - Onde o governo errou?

Eduardo Cunha - O governo errou em ter candidato. Quis fazer interferência. Eu fiquei sendo o candidato da Casa.

O senhor impôs uma grande derrota política à presidente.

Porque os articuladores políticos do governo, muito atrapalhados, simplesmente resolveram fazer uma política absurda dentro da Casa. Eles quiseram assumir a derrota. Vieram para cá na base da pressão e de tentar constranger deputados, partidos e ministros indicados. Vieram para uma luta perdida. Qualquer um que conhece essa Casa sabia que iam fracassar. Não tinham a mínima noção.

O senhor está falando do Miguel Rossetto, Aloizio Mercadante e Pepe Vargas?

Eu não sei quem foi o responsável. Eu recebo relatos de Pepe Vargas. Eu acho que Pepe verbalizou ameaças para ministros e parlamentares.

Mas houve isso? Quais casos?

Não vou citar, vários partidos. Todos da base que têm ministro no governo. Na hora que Pepe resolveu partir para esse tipo de confronto, ele se inviabilizou não só com o presidente da Casa mas tornou a relação dele muito difícil com os partidos da base que não o atenderam. E os que o atenderam o fizeram constrangidos.

O governo achava que Arlindo Chinaglia poderia vencer.

Só o governo, através do seu articulador Pepe Vargas, acreditava em Papai Noel. Como é que alguém que tem um cargo de relações institucionais busca quebrar a institucionalidade dessa forma?

Quanto custou a campanha?

Nem apurei.

Dizem que empresas, como a JBS, ajudaram.

Puxa, que bom. Vou até procurá-los para saber se é verdade.

Representantes da JBS não pediram votos para o senhor?

Isso é outra coisa. É uma opção política que eles possam ter feito. Outra coisa é financiamento.

Em momento algum a JBS procurou o senhor?

Tenho certeza de que se você fizer uma enquete com os 100 maiores empresários do país, certamente talvez 98 preferissem a minha eleição. Não preciso pedir, via na rua. Não quer dizer necessariamente que tenha tido poder econômico na minha eleição.

E a reforma política?

Nós temos de discutir. Já falei com o Michel [Temer, vice-presidente da República e presidente do PMDB] e ele vai contestar judicialmente a criação desses novos partidos que têm o objetivo claro de fraudar a legislação com vistas à futura fusão.

Fala do PL, que o ministro Gilberto Kassab articula?

Não dá para permitir cooptação de parlamentares de outros partidos. Isso seria um revés no governo, que vai se beneficiar da criação de um outro partido para diminuir sua dependência do PMDB, de criar uma base alternativa... É absolutamente incoerente o governo defender a reforma política e estimular a criação de partidos fictícios.

O procurador-geral da República divulgará os políticos envolvidos na Operação Lava Jato. O sr. teme estar na lista?

Defendi a CPMI para investigar todo mundo, até a mim. As situações que surgiram foram categoricamente desmentidas. Se por ventura existir qualquer coisa, vamos ver o que é. Estou absolutamente tranquilo. Não conheço nenhuma dessas pessoas que estão envolvidas.

Está preparado para assumir a Presidência da República?

Será simplesmente para cumprir o rito. Não vai ser para assumir o poder da presidente da República.

Dizem que o sr. é inimigo íntimo da Dilma...

Por que íntimo? [risos]

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