• A eleição de Eduardo Cunha é parte de um quadro de dificuldades para Dilma, obrigada agora a, mais do que nunca, fazer política no relacionamento com o Congresso
Já em 2012 era possível prever que o presidente que assumisse em 2015 não teria vida fácil, caso Dilma Rousseff insistisse no equívoco da política do "novo marco macroeconômico". Insistiu, conquistou a reeleição e ela mesma é que tem de administrar a própria herança maldita - para isso, ao menos, escolheu bons nomes para a equipe econômica no segundo governo.
No plano político, ainda durante a campanha era visível que a presidente enfrentaria dificuldades específicas caso saísse vitoriosa. Afinal, com a assessoria da marquetagem, vendeu a ideia de um país virtual, e foi obrigada, logo ao assumir, a tomar medidas previsíveis, mas que criticara na campanha quando abordadas pela oposição. É verdade que, para o bem do país, as tomou, mas, com isso, criou ruídos com as bases mais à esquerda - sindicatos e adjacências -, sem conquistar um apoio sequer à direita.
E para validar ainda mais as previsões de chuvas e trovoadas na rota do segundo governo, o Planalto sofreu no domingo retumbante derrota na escolha do presidente da Câmara, com a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sem necessidade de votação em segundo turno, na disputa com o petista de São Paulo Arlindo Chinaglia. No final das contas, o próprio PT ficou sem cargos na nova Mesa Diretora da Casa, porque cedera as cadeiras a que tinha direito, por ser a maior bancada da Câmara, a aliados, em troca de votos para Chinaglia.
Em compensação, Dilma terá uma retaguarda tranquila no Senado, onde Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito, embora com uma diferença de votos para o segundo colocado, Luiz Henrique (PMDB-SC) - 49 a 31 -, pequena, em comparação com as vitórias anteriores. Teve, sem competidor, 73 votos em 2005, 51 em 2007 e 56 em 2013. E caiu de patamar em 2015.
O panorama apresentado pelas eleições no Congresso aponta para o avanço de um sentimento de alguma independência do Legislativo em relação ao Planalto, algo em si positivo para a democracia.
Mas a bola volta para o campo do Executivo. A sequência do jogo, não parece haver dúvidas, impõe à presidente Dilma a necessidade de fazer política. Sabe-se que não é de seu feitio, mas os melhores assessores a aconselharão a dialogar com Eduardo Cunha, pessoa que a presidente costumava evitar, e seu campo. Os números frios mostram que a própria base parlamentar conspirou contra o candidato oficial: dos 180 votos do bloco formado por Chinaglia, 44 não votaram nele; e aos 267 que formalmente apoiavam Cunha, ele ainda somou outros 49.
Prevê-se que sob Eduardo Cunha o Planalto terá de amargar mais uma CPI sobre a Petrobras. Esta, mais séria ou menos manipulada. Mas é provável que a presidente venha a descobrir que sempre haverá algum campo de negociação com o novo presidente da Câmara, tudo a depender do que será barganhado.
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