• Cadeia produtiva
Ramona Ordoñez, Bruno Rosa – O Globo
Fora de prumo
Na esteira da crise naval, a indústria de máquinas e equipamentos também sente os efeitos da paralisação da Petrobras e dos problemas financeiros dos estaleiros por causa dos casos de corrupção da Operação Lava-Jato. Cerca de seis mil empregos de fornecedoras para o setor de óleo e gás foram cortados desde o início do ano passado, revela a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Sem encomendas e sofrendo com a falta de pagamento de estaleiros Brasil afora, as empresas fornecedoras já operam com 50% da capacidade. O setor de óleo e gás soma 15% do faturamento de R$ 80 bilhões anuais da indústria de máquinas e equipamentos. Segundo o presidente da Abimaq, José Velloso, cerca de 900 empresas fabricantes de materiais trabalham para a Petrobras direta ou indiretamente.
- O setor não sabe o que fazer. Estamos no escuro sem qualquer informação. Não existem mais previsões, ninguém planeja mais nada. A situação é muito grave - lamentou Velloso.
O coordenador do MBA Gestão de Negócios em Indústria Naval Offshore da Fundação Getulio Vargas, Alberto Machado Neto, acredita que, com o retrocesso do setor naval, a indústria de materiais e equipamentos continuará sendo afetada:
- Na medida em que a crise se aprofunda, aumentarão as demissões atingindo também o pessoal mais qualificado. O problema está deixando de ser conjuntural para ser estrutural. Não estou vendo nenhum movimento no sentido de atuar na recuperação da indústria naval. É preciso buscar iniciativas sólidas para colocar o braço na alavanca e começar a recuperação.
Henrique Gomes, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco, lembra que no estado empresas que fornecem materiais para os estaleiros já enfrentam momentos de crise:
- Com a redução na atividade dos estaleiros de Pernambuco, alguns fabricantes já estão sem receber e têm de demitir. A crise se alastra por toda a cadeia.
Preocupação com polos
Especialistas se preocupam com a paralisação da construção dos polos navais no Brasil - que reúnem justamente os fornecedores da cadeia. Além da suspensão do polo de navipeças no Rio, outros empreendimentos foram interrompidos. É o caso do Polo 2 de julho, no interior da Bahia, em Maragojipe. O empreendimento previa investimentos entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões e a geração de oito mil a 12 mil empregos. A ideia do polo era atrair pequenas e médias empresas do setor.
No Sul, a crise na Petrobras e nos estaleiros também jogou por terra o crescimento do polo de Rio Grande - que surgiu em 2005. Executivos lembram que muitas empresas fornecedoras que tinham comprado áreas para se instalarem na região mas, com a redução na atividade dos principais estaleiros da cidade, acabaram desistindo. Em 2010, surgiu a ideia de criar um segundo polo no Rio Grande do Sul: em Chaqueadas. Porém, o projeto acabou sofrendo os impactos da crise que abate o setor. Uma das principais empresas do local, a Iesa Óleo e Gás - em recuperação judicial e proibida de ser contratada pela Petrobras por uma suposta formação de cartel - disse que fechou sua unidade e demitiu 1.023 trabalhadores.
- É uma falta de consideração da Petrobras que nos mobilizou, estimulou investimentos para atender a suas demandas, e agora sequer nos recebe. A Petrobras está pagando em dia seus compromissos em andamento, contudo, o grande problema é que não aceita pagar mais qualquer aditivo aos contratos - lamentou Velloso.
Procurada, a Petrobras disse que "está em dia com suas obrigações contratuais perante às contratadas e que todos os pagamentos de seus compromissos reconhecidos estão sendo realizados de acordo com a legislação vigente e com o estabelecido nos contratos".
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