• Tanto a vencedora quanto o perdedor da eleição se comportaram mal. Mas nada justifica i impeachment
- O Globo
Ainda não vivemos uma crise institucional. Falta pouco, pois a crise política se agrava no dia a dia. Portanto, a questão da hora é como evitar que essa crise política se transforme em crise institucional.
Cabe ao governo tomar a iniciativa de promover entendimentos para evitar o pior, que pode afetar toda a nação. Entretanto, o governo não dá sinais concretos de que fará isso. Alguns de seus membros, e poucos, falam constantemente em “diálogo”. Mas é retórica pobre.
O diálogo só se dará se a presidente tomar a iniciativa de convocar todas as forças políticas. E, para isso, é preciso formar um governo capaz de realizar essa tarefa.
O ministério que ela constituiu é anterior à atual crise e com esta não tem qualquer relação. O atual ministério é um conjunto que resultou de acertos partidários para dar continuidade a uma política que se esgotou. As ruas o demonstram e as pesquisas de avaliação do governo também, e de maneira aterradora. É burrice repetir que só o eleitorado do outro está descontente. Todo o país está descontente e cabe à presidente se dar conta disso. As eleições, campanha e resultados, provocaram intensa polarização social e política. De um lado, a vencedora não mostrou o mundo real, este que, depois da eleição, o ministro Joaquim Levy se esforça por administrar a custos elevados para os trabalhadores. De outro lado, o candidato derrotado agiu como se pretendesse um terceiro turno.
Ambos se comportaram mal. Entretanto, nada justifica o impeachment de candidato legitimamente eleito.
A questão é outra: não se trata de ruptura, mas de diálogo. Aquela tem fortes tintas golpistas e o diálogo não pode ser o vazio que o governo propõe, mas uma ação política concertada. É preciso que fique claro que o país necessita da concertação. Será que a classe política não está à altura de evitar uma crise institucional?
Todos sabem como uma ruptura institucional começa. A presidente sabe. A oposição também sabe. Então, agora é agir.
No caso do governo, o ministério que está aí não presta. Pertence ao passado. A presidente tem condições de chamar políticos e líderes sociais à altura dos desafios do presente. Políticos e líderes capazes existem, mas é preciso que a presidente exerça a responsabilidade que as urnas lhe outorgaram. E os convoque.
Já a oposição precisa se libertar de ressentimentos acumulados e não ouvir as vivandeiras de sempre. Para fazer a firme oposição ao governo, é necessário abandonar a tentação da oposição ao regime.
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Marcello Cerqueira é advogado
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Marcello Cerqueira é advogado
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