- Folha de S. Paulo
Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita. A frase do publicitário Carlito Maia (1924-2002), fundador do PT, foi lembrada ontem no Congresso. Resumia o desalento de um deputado com a prisão de João Vaccari, acusado de abastecer campanhas com propinas do petrolão.
Todo partido precisa juntar dinheiro para disputar eleições. O desafio é não deixar que a arrecadação se torne um fim em si, a ponto de justificar a aplicação de todos os meios para aumentá-la. A prisão do segundo tesoureiro em dois anos sugere que o PT esqueceu a lição de Carlito.
A sigla pode ter se transformado em outra coisa, mas não avisou os eleitores. Continua a pedir votos com o discurso da época em que financiava campanhas com a venda de broches de estrelinha. Não cola mais.
Vaccari é uma espécie de Forrest Gump do petrolão. A cada vez que um réu decide falar, ele volta a ser ligado ao escândalo. Sua prisão era questão de tempo. O PT sabia disso, mas insistiu em mantê-lo no cargo.
Ontem persistiu no erro ao tratá-lo como vítima. Seu líder na Câmara, que acusou a CIA de tramar os protestos contra o governo, disse que a detenção foi "política". Com defensores assim, será difícil sair da lona.
A ordem agora é tentar isolar a ação de Vaccari das campanhas de Dilma Rousseff, que tinham tesoureiro próprio. É uma tese de difícil sustentação. No ano passado, mais de R$ 30 milhões gastos na disputa presidencial saíram da direção nacional da sigla. Desse valor, R$ 4,8 milhões foram doados por Andrade Gutierrez, Odebrecht e Braskem, empresas citadas na Lava Jato.
Investigado na Lava Jato, o deputado Eduardo Cunha emplacou ontem um de seus advogados no conselho que fiscaliza a atuação do Ministério Público. Quem se interessa pela independência do órgão precisará fiscalizar a atuação do conselheiro Gustavo do Vale Rocha.
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