- Folha de S. Paulo
Sistemas, incluindo os políticos, tendem ao equilíbrio --e o governo Dilma Rousseff não é exceção. Acossada pelas barbeiragens econômicas de seu primeiro mandato, a presidente viu-se de cara compelida a terceirizar a gestão das finanças públicas para Joaquim Levy. Deve ter imaginado que continuaria reinando nas demais esferas, mas não foi bem o que ocorreu.
Sem muito apetite ou talento para a política e exibindo sinais de fraqueza, Dilma e seu núcleo duro foram engolidos pela dupla Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Isso é tanto mais extraordinário quando se considera que são os dois parlamentares peemedebistas e não a presidente que estão com seus nomes na lista de investigados na Operação Lava Jato. Seja como for, depois de levar sucessivas saraivadas de fogo amigo dos dois supostos aliados, a mandatária teve de abrir mão de mais um naco de poder, o que oficializou ao transferir para o vice-presidente Michel Temer e também cacique peemedebista a articulação política do governo.
É um arranjo que, ao menos por ora, convém aos principais atores. Dilma diminui o ritmo dos trancos que vinha levando e ganha tempo para respirar. Um possível processo de impeachment fica fora do horizonte visível. O PMDB vai exercendo fatias maiores de poder e com a enorme vantagem de não sofrer diretamente o desgaste pelas maldades do ajuste fiscal, que irão para a conta de Dilma e do PT. Joaquim Levy ganha espaço para avançar com a agenda liberal sem ter de negociar cada detalhe com a presidente, como seria o caso se ela ainda fosse a mesma personagem do governo Dilma 1.
Em princípio, se não surgir nenhuma bomba nas investigações, esse equilíbrio meio precário pode continuar por um longo tempo. Ele tenderá a ser rompido ou quando a situação econômica melhorar e Dilma sentir-se fortalecida, ou quando as forças políticas tiverem de se posicionar para a sucessão presidencial.
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