• Manifestações e índices de reprovação mostram que insatisfação com o modelo petista permanece alta, mas o Planalto precisa tocar agenda do país
O número de manifestantes que voltaram às ruas anteontem, em nova rodada de protestos no Brasil, não é o único termômetro para se medir o clima de insatisfação geral da população com o governo. Com centenas de milhares de pessoas, os atos públicos do fim de semana tiveram adesão inferior à das manifestações de 15 de março, que mobilizaram milhões contra os descaminhos de uma política econômica que imobiliza o país e contra as incessantes denúncias de corrupção envolvendo a base parlamentar governista. Mas, ainda assim, foi uma afluência expressiva. Ademais, é sintomática a frequência de demonstrações de desagrado com a administração pública.
Governo e oposição concordam que a insatisfação não está atenuada. Como continua imutável a paisagem em Brasília em relação aos eventos de 15 de março, nada indica que os que foram às ruas na primeira manifestação, mas não participaram dos atos deste domingo, tenham passado a apoiar Dilma e o projeto do PT. Pelo contrário. A base petista continua acusando o duro golpe da queda de popularidade da presidente, que navega em mar revolto com um índice de reprovação em torno de 60%. Também é forte sintoma de mau humor da população a exdrúxula pressão pelo seu afastamento, refletida em pesquisa que indica o apoio de 63% à abertura de processo de impeachment contra a inquilina do Planalto, mesmo sem causa jurídica.
Mas, se tais indicadores evidenciam que o projeto petista permanece sob forte contestação, as últimas semanas mostraram que o governo aparenta alguma disposição para passar da letargia para ações inadiáveis. O quadro político ainda é nebuloso. As revelações da Lava-Jato avançam cada vez mais na direção da cúpula do PT, cujo tesoureiro, João Vaccari, teve de se explicar na CPI da Petrobras. E os presidentes da Câmara e do Senado, líderes do PMDB, estão sob investigação.
Em meio a esse quadro gelatinoso, a presidente acertou ao entregar a coordenação política do governo ao vice, Michel Temer. Ao defenestrar o PT do comando das negociações com o Congresso, delegando-as ao PMDB, abriu-se uma janela de oportunidade para que situação e oposição conversem, se entendam e negociem acordos básicos para tirar o país do impasse, a partir de uma pauta básica que contemple temas relevantes.
Parte dessa agenda já está no Congresso — à frente o ajuste fiscal, cuja aprovação é essencial para esconjurar o fantasma da paralisia econômica. Da parte do Legislativo, o sinal verde para a aprovação da Lei das Terceirizações é demonstração de que o Congresso quer enfrentar sem hipocrisias o desafio da modernização das relações trabalhistas, um nó que começa a ser desfeito para acabar com o anacrônico engessamento consagrado na legislação. O vácuo político pode desaparecer com entendimentos eentre governo e oposição. Todos ganham.
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