• Presidente diz que a empresa está 'de pé' e ações sobem, mas petroleira faz dieta de doente crítico
- Folha de S. Paulo
A presidente deu de discursar, animada, sobre a Petrobras. A empresa estaria "de pé", fez uma limpa, agora é bola para a frente, coisas assim. Até parece.
No entanto, investidores em ações da empresa até parecem concordar com a presidente Dilma Rousseff --apenas parece. Mas algo se move, algo mudou no que diz respeito à estatal petroleira, mesmo que temporariamente. O que houve?
Desde o fundo do poço onde jaziam no final de janeiro, os preços das ações da Petrobras subiram algo mais que 50%. Os papéis da empresa pareciam baratos até em reais. Entraram de vez na xepa, em baciadas, devido à desvalorização do real.
No entanto, a imagem da empresa ainda se arrasta na vala do descrédito. "Imagem", aqui, não reflete abstrações emocionais: trata-se do custo do dinheiro, das taxas de juros que investidores exigiriam para emprestar à empresa, caso a Petrobras tivesse a coragem de dar as caras no mercado. A depender dos prazos dos empréstimos, o nível das taxas de juros subiu de uns 15% até 40%.
Além de baratinhas em dólar, houve motivos de sobra de especulação com ações da Petrobras, em todos os sentidos da palavra, dos melhores aos piores, alguns dos quais ainda merecem investigação da Comissão de Valores Mobiliários (ou, se a CVM os investiga, de publicidade do que foi apurado).
Vaza um dilúvio de notícias importantes a respeito da empresa.
Vaza o nome de um possível presidente do Conselho de Administração; da composição futura do Conselho.
Vaza que a empresa vai vender tal ou qual ativo (empresas do grupo ou participações em negócios gigantescos e complexos como a sociedade na Braskem, com a Odebrecht).
Vaza que a empresa conseguiu enfim a chancela dos órgãos reguladores para um modo de apresentar os prejuízos no balanço. Ontem, depois de fechado o mercado, que passou o dia a especular, a empresa informou oficialmente que sua direção discute no dia 22 o balanço de perdas com as bandalhas da corrupção e dos investimentos lunáticos.
Pode ser até tudo verdade. Caso algumas notícias se confirmem, haveria perspectiva de recuperação da empresa, arruinada pelo endividamento irresponsável e pelos prejuízos, impostos pelas políticas do governo, e pelo esbulho criminoso de seus recursos.
Mas a Petrobras estaria de "pé", pronta para caminhar? Talvez se reerga, mas sendo obrigada a cortar o peso de um braço, de uma orelha (ainda assim, haverá problema de sobra, mas passemos, por hoje).
A Petrobras vai tentar sair do chão vendendo ativos valiosos a preços de liquidação, pois a economia do país e a do setor de petróleo vão mal --a Petrobras vai vender anéis porque tem dívida demais e pouco crédito. Além do mais, terá de fazer dieta de doente grave, cortando investimentos. Especula-se ainda que o governo talvez relaxe a política de "conteúdo nacional" (a reserva de mercado para produtos com certo grau de nacionalização, que elevou os custos da petroleira).
Ou seja, a Petrobras vai ter de fazer uma reestruturação na marra, em um momento ruim, reestruturação que até seria recomendável, mas não desse jeito, não agora, o que será inevitável devido à política ruinosa do governo para a maior empresa do país.
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