terça-feira, 14 de abril de 2015

Miro Teixeira: 'A Dilma tem que ouvir a rua'

• Deputado sugere que a presidenta reduza o número de ministérios

Ramiro Alves e Eugênia Lopes - O Dia (13/4/2015)

RIO - Com a experiência de 11 mandatos na Câmara dos Deputados, Miro Teixeira (Pros) sugere que a presidenta Dilma Rousseff reduza o número de ministérios, acabando com o loteamento de cargos entre os partidos. Em entrevista ao DIA, Miro afirmou que as instituições governamentais passam por uma crise de confiança e conclamou a presidenta a tirar ‘a cera dos ouvidinhos’ e ouvir a voz das ruas.

O DIA: Como o senhor analisa a rua se manifestando com movimentos como o ‘Fora Dilma’ e a favor do impeachment.

MIRO: As manifestações democráticas só fizeram bem ao Brasil. Foi assim no movimento das Diretas Já; foi assim com a anistia. Agora, o povo está na rua por mais democracia. As manifestações são autorais, cada um leva o seu cartaz, cada um a sua ira, a sua revolta ou seu amor para exibir. Mas tem uma coisa que acho que é do inconsciente coletivo: o que nós queremos? A República, que os bens públicos deixem de ser apropriados como se privados fossem. Que o povo seja realmente o dono do poder e que o dinheiro público deixe de ser roubado.

A presidenta Dilma Rousseff sobrevive a essa confusão?

Ela sobrevive. Eu creio que ela tem que mexer no governo. Ela tem que cuidar dos ‘ouvidinhos’. Ela tem que ouvir a rua. A rua costuma tirar a cera dos ouvidos dos políticos. Eu espero que tire dos ouvidos dela. Porque dividir o poder, lotear o poder em nome da governabilidade é debochar dos outros. A governabilidade se dá em torno de ideias. O loteamento não faz um governo de coalizão; faz um governo de cooptação. Normalmente, quem tenta cooptar dessa maneira escancarada, acaba sendo devorado. Eu espero que ela (a presidenta Dilma Rousseff ) reveja esse número de ministérios e de outros órgãos entregues aí a partidos políticos nessa política de loteamento.

O que fazer para não ser ‘devorado’?

Há uma crise de confiança. A confiança depende da postura, da ação. Acho que o povo vai se realinhar com a Dilma. Afinal, ela ganhou a eleição. Ela não está lá por um golpe. Mas é estranho que alguém possa imaginar que o povo está errado. Quem está errado é ela. A crise de confiança não é só no Executivo: é também no Poder Legislativo e parte no Judiciário. É uma crise de confiança nas instituições. Resolvendo a crise de confiança, resolve tudo.

O seu partido, a Rede, vai apoiar o Pedro Paulo Carvalho, candidato de Eduardo Paes, à prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de 2016?

Acho que o Eduardo Paes lançará ou apoiará o favorito das eleições. Nós teremos as Olimpíadas, que terão grande repercussão. E isso vai trazer uma grande expressão para o candidato apoiado pelo Eduardo Paes.

O senhor acha que o Eduardo Paes será candidato à Presidência da República em 2018?

Está se falando muito nisso. O Paes, prudentemente, está recolhido. Mas no PMDB há essa conversa. A visibilidade que o Paes obtiver pode ser útil. Na França, não é incomum que o prefeito de Paris seja considerado o candidato potencial à Presidência da República.

Ele (Eduardo Paes) poderá ter o apoio do PT do ex-presidente Lula?

O Lula é um força da natureza. É, sem dúvida, um grande eleitor. Sem dúvida nenhuma, tem conquistas que não podem ser desconsideradas. É possível sim uma aliança do Lula com o Paes.

A reforma política está em discussão na Câmara. O senhor é a favor do financiamento público de campanha?

Não há possibilidade de fazer financiamento público, dando individualmente um dinheiro para cada candidato. Você vai chegar a uma cifra tão absurda, especialmente em eleições municipais, que o povo vai preferir não ter democracia. Para mim, o financiamento público é incompreensível, é inexecutável. Não há possibilidade disso ser aprovado. Pelo menos, com o meu voto.

E o chamado ‘distritão’, onde os candidatos mais votados nas eleições proporcionais são eleitos?

Essa proposta fortalece os partidos. Acaba com os negócios, ou melhor, as negociatas de partidos. Com o distritão, as coligações ficam inúteis e ganha a eleição quem tem voto.

Paralelamente à reforma política, a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos é outro tema polêmico em discussão na Câmara. Qual é a sua posição?

A idade não é determinante para a prática ou não dos crimes. O que resolve a questão da criminalidade não é a pena. O que resolve a questão do criminoso é a efetividade da aplicação da pena. No Brasil, apenas 10% dos crimes de homicídio são desvendados. Sou contra a redução da maioridade porque não resolve. Se reduzir de 18 para 16 anos, o que vai acontecer é que os criminosos vão pegar, vão cooptar os jovens abaixo de 16 anos. É uma venda de ilusão, achar que isso vai resolver. Não podemos correr o risco de lançar mais jovens na rede do crime.

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