• Manifestações perdem força no intervalo de um mês, mas, com reprovação ainda muito alta, governo não se livra da pressão das ruas
Para usar dois termos em voga, a questão terá sido de "timing" e de "foco". A menor adesão às manifestações de domingo (12), comparada ao vasto protesto realizado em 15 de março, não reflete um diagnóstico mais benigno a respeito do governo Dilma Rousseff (PT) por parte da população.
No mesmo em dia em que se registravam 100 mil pessoas na avenida Paulista (metade da multidão do mês passado, mas ainda assim mobilização notável sob qualquer ponto de vista), pesquisa Datafolha mostrava que 60% dos brasileiros reprovam a gestão da presidente, enquanto somente 13% a consideram ótima ou boa.
O fato é que, de março a abril, pouco aconteceu. Se as manifestações anteriores se beneficiaram de longa preparação, o intervalo de um mês entre um grande sucesso e o evento de agora não propiciou avanços de entusiasmo, revolta ou vigor reivindicativo.
O "Fora, Dilma" pode ser entendido como um desabafo antipetista. Traduzido, em termos institucionalmente graves, no lema do impeachment, encontra apoio em 63% da população --note-se que praticamente a mesma proporção ignora que Michel Temer (PMDB) é o vice-presidente do país.
Até agora, nada nas investigações tem incriminado a petista. A figura de Dilma surge quase como metáfora de um estado de corrupção sistêmica que a operação Lava Jato escancara.
Configura-se, portanto, um problema de foco nas manifestações. Se a questão é derrubar a presidente, o fato específico não surge de modo dramático e identificável. Se a questão é outra --a luta contra a corrupção, contra as distorções do esquerdismo--, há muito a fazer.
Paradoxalmente, a conjuntura tem retirado do PT o papel de condutor do país. Nas mãos de Eduardo Cunha, a Câmara dos Deputados assume seu próprio poder.
Bem ou mal, a linha conservadora do peemedebista fluminense significa um aumento de pluralidade e de disputa, num panorama político não faz muito tempo curvado ao triunfalismo petista.
Somem-se a isso os novos poderes adquiridos por Temer, menos afeito ao conflito que seu correligionário audacioso e evangélico.
Tudo se modera, em suma. A pressão das ruas continua, e é bom que seja assim. A pressão das ruas se alivia, e não é ruim que isso aconteça. Oposição não é histeria, e justiça não é tumulto.
Há disciplina nas coisas, diziam os romanos. "Modus in rebus", sentem os brasileiros: na festa da revolta, na expectativa da justiça, no tortuoso jogo do Congresso Nacional. As instituições aprendem; espera-se que isso inclua os Poderes Executivo e Legislativo.
O país, a despeito do pessimismo moral e econômico, não caminha para trás. Dilma Rousseff, Michel Temer e Eduardo Cunha valem o que valem nesse quadro, não radioso, mas desencantado, do real.
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