O chefe aceita contar o que sabe
• Empresário que comandava "clube das empreiteiras" fecha acordo de delação
Jailton de Carvalho – O Globo
BRASÍLIA - O empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e da Constran, fez acordo de delação com o Ministério Público Federal e citou nomes de pelo menos seis parlamentares federais, entre eles um ex-ministro, como beneficiários da corrupção investigada na Operação Lava-Jato. Entre os políticos mencionados por Pessoa está o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, segundo disse ao GLOBO uma pessoa ligada ao caso. O empresário é apontado como o chefe do cartel das empreiteiras acusadas de fraudar contratos com a Petrobras, o chamado "clube das empreiteiras" ou "clube do bilhão".
Pelo acordo, Pessoa se comprometeu a devolver ao cofres públicos R$ 55 milhões que teria obtido em negócios escusos com a Petrobras. Os depoimentos da delação devem começar na próxima semana, após a homologação do acordo. Pessoa deverá apresentar detalhes das acusações contra cada citado.
Pessoa ficou seis meses preso na Polícia Federal em Curitiba. Em 28 de abril, passou para prisão domiciliar por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). É obrigado a usar tornozeleira eletrônica e só pode deixar São Paulo, onde mora, com autorização judicial.
O empreiteiro e procuradores da Lava-Jato assinaram o acordo após uma reunião de quase quatro horas na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele chegou à PGR, em Brasília, por volta de 10h, com dois advogados, e só deixou o prédio após as 14h. As negociações foram conduzidas pelo grupo de trabalho que está à frente dos inquéritos abertos por ordem do STF contra 35 deputados e senadores supostamente envolvidos com as fraudes na Petrobras. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também participou de parte da reunião.
O acordo de delação começou a ser negociado pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, em janeiro. Mas, como Pessoa manifestou intenção de delatar deputados e senadores, as tratativas ficaram a cargo do grupo de trabalho, vinculado aos inquéritos abertos pelo STF.
O empresário viajou a Brasília a pedido do procurador-geral e com autorização do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. Procurados pelo GLOBO, os advogados Alberto Toron e Antônio Figueiredo Basto, responsáveis pela defesa de Pessoa, não deram entrevistas.
A Procuradoria-Geral da República disse que não faria qualquer comentário sobre o encontro entre procuradores e o empresário. Na primeira fase das negociações, Pessoa disse aos procuradores da força-tarefa que fez doações de R$ 7,5 milhões para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Os pagamentos teriam sido intermediados pelo atual ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, tesoureiro da campanha da presidente.
Segundo a "Folha de S. Paulo", Pessoa afirmou ter feito as doações com receio de retaliações. Edinho disse que não houve irregularidades. Segundo ele, as doações estão registradas, e as contas da campanha da presidente foram aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
- Jamais tive qualquer tipo de contato com a Petrobras. Fui um tesoureiro como qualquer outro de outras campanhas, que procurou o empresariado brasileiro em busca de doações. Legais e declaradas - disse o ministro.
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, responsável pela defesa de Lobão, disse que nem ele nem o senador comentariam as acusações de Pessoa antes de conhecer o conteúdo da delação.
- O ministro me disse que não tem por que se preocupar com Pessoa. Tem que ver as circunstâncias do que ele falou. A delação tem que ser vista com muito cuidado. Ele (Pessoa) passou seis meses presos e sob enorme pressão - disse Kakay.
Para investigadores da Lava-Jato, Pessoa é um empresário com visão privilegiada sobre as fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Seria o coordenador do grupo que combinava o direcionamento das licitações dos grandes contratos da estatal. As empresas de Pessoa também têm longa lista de contribuições oficiais a políticos de diversos partidos.
As empreiteiras suspeitas de integrar o "clube do bilhão" têm contratos ainda vigentes com a Petrobras no valor de R$ 44,6 bilhões. Ao todo, 65 contratos permanecem ativos, dos quais 53 foram firmados a partir de cartas-convite e o restante, por dispensa ou inexigibilidade de licitação. A UTC, por meio de um consórcio, executa obras no valor de R$ 3,9 bilhões, com vigência até este ano. (Colaborou: Evandro Éboli)
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