Alexandre Rodrigues – O Globo
Em vez de solucionar, o distritão pode agravar a chamada crise de representação. O principal efeito colateral da troca do sistema proporcional pelo majoritário na eleição de parlamentares seria o enfraquecimento dos partidos, que não contariam mais com os votos de todos os seus candidatos para se fazer representar no Legislativo. Se aos eleitos bastará estar entre os mais votados de um estado, que compromissos programáticos e eleitorais terão com seus correligionários? No distritão, será cada um por si.
O risco é estimular o poder econômico nas campanhas já tão caras e candidaturas de líderes carismáticos, religiosos e celebridades. O distritão tornaria os partidos, que ainda exercem algum controle, cada vez mais acessórios. Outra ameaça é a sub-representação regional. Numa disputa majoritária, eleitos tendem a sair das áreas mais populosas, como as capitais.
Por outro lado, o distritão é de fácil entendimento para o eleitor, que poderá escolher um candidato sem ajudar a eleger um correligionário que não gosta. Pode também reduzir o número de partidos na Câmara, facilitando a formação de maioria no jogo com o Executivo. Partidos pequenos terão mais dificuldades de entrar. Mas talvez o que mais ajuda a ideia a avançar é o interesse dos atuais deputados. Uma simulação do cientista político da UFRJ Jairo Nicolau mostra que apenas 44 dos atuais 513 deputados teriam ficado fora da Câmara se o distritão tivesse sido adotado em 2014. Não contam que, no longo prazo, o feitiço pode se voltar contra o feiticeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário