sexta-feira, 1 de maio de 2015

Merval Pereira - Contas suspeitas

- O Globo

As contas do governo federal, e também as do Partido dos Trabalhadores, estão sob o escrutínio da Justiça, e não há boas notícias pela frente. Na Justiça criminal, o uso de uma gráfica ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para lavagem de dinheiro entre 2010 e 2013 transformou em réus o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobras indicado pelo PT Renato Duque no processo do petrolão.

Na Justiça Eleitoral, devido à revelação "de fatos gravíssimos" relacionados às contas da campanha presidencial de 2014, o ministro Gilmar Mendes, do TSE, "prorrogou por um ano a decisão que obriga que os arquivos eletrônicos da prestação de contas da presidente e do comitê financeiro do PT em 2014 fiquem disponíveis no site do tribunal". E o Tribunal de Contas da União (T CU) enviou para o Ministério Público as conclusões de uma auditoria sobre as chamadas "pedaladas fiscais", para ver se estão caracterizados crimes, que podem definir o crime de responsabilidade da presidente Dilma, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ou de dirigentes de Banco do Brasil e Caixa Econômica. Tanto nas contas anuais quanto nas da eleição de 2014, o PT é acusado de usar gráficas para lavar dinheiro.

A Gráfica Atitude, cujo endereço é o mesmo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, teria sido usada em operações de lavagem de R$ 2,4 milhões. Parte da propina paga para Renato Duque, então diretor de Serviços da Petrobras, foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça, para a Editora Gráfica Atitude Ltda., a pedido de João Vaccari Neto, então tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT). Com relação à campanha presidencial do ano passado, surgiram indicações de que outra gráfica, a VTPB, teria recebido R$ 22,9 milhões da campanha de Dilma Rousseff para impressão de folhetos, mas no seu endereço não há gráfica nenhuma.

A explicação oficial é que ela servia de distribuidora dos serviços para outras gráficas, que imprimiriam os pedidos do partido, o que está gerando suspeita de lavagem de dinheiro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou também o PT a multa de R$ 4,9 milhões por irregularidades nas contas do partido de 2009. A sanção mais rigorosa, porém, tem a ver ainda com o mensalão. Por ter usado recursos do Fundo Partidário para pagar um empréstimo fictício ao Banco Rural, o PT perdeu o direito de receber dinheiro do Fundo por três meses, o equivalente a R$ 10,6 milhões em valores do ano passado.

Cheiro de Watergate
Em resposta a pedido do "O Estado de S. Paulo", baseado na Lei de Acesso à In formação, a direção da Petrobras informou que foram eliminados os registros em áudio e vídeo das re uniões do Conselho de Administração que trataram de obras que estão sendo investigadas pela Operação Lava-Jato e compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Tudo com a participação da presidente Dilma na presidência do Conselho. A explicação é que o Regimento Interno da estatal autoriza a eliminação dos vídeos depois que as atas das re uniões são aprovadas. A questão é que as atas não re produzem os diálogos e as discussões, descrevendo apenas as decisões tomadas. Não é a primeira vez que os registros, eletrônicos ou não, envolvendo Dilma Rousseff desaparecem.

Quando ela era chefe do Gabinete Civil, foi acusada de ter tido uma reunião com a então secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira e pediu, segundo rela to dela, para "agilizar a fiscalização do filho do senador Sarney". Dilma negou o encontro e não houve registro dele nas agendas nem da Presidência nem da Receita Federal, e o vídeo que supostamente revelaria quem se encontrara com a presidente naquele dia nunca foi encontrado. O presidente dos Estados Unidos , Richar d Nixon, teve que renunciar ao cargo quando se descobriu, no desenrolar do escândalo de Watergate, que parte de uma fita da gravação de suas audiências for a adulterada.

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