- O Estado de S. Paulo
No Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff fica muda (a não ser no escurinho da internet) e o presidente do Senado, Renan Calheiros, é quem está gritando contra Dilma, contra o governo, contra o PT e até contra o "outro PMDB".
É fácil entender o silêncio de Dilma, depois daquele panelaço infernal de 8 de Março, que serviu de convocação para as manifestações do domingo seguinte. Mas não é nada simples entender a tagarelice de Renan. Afinal, o que ele quer? Se a hora é do PMDB, não seria hora de bater de frente nem com o Planalto nem com o partido, certo?
Quanto mais fraca Dilma fica, mais forte se tornam os peemedebistas. O vice-presidente e coordenador político, Michel Temer, e o ministro da Aviação Civil e operador político de fato, Eliseu Padilha, não se contentam mais em dominar a área política do governo, a Câmara e o Senado estão ocupando o poder fisicamente. Como relatou a repórter Tânia Monteiro no Estado, eles estão se deslocando pouco a pouco para o quarto andar do Planalto - que, frise-se, fica "acima" do gabinete presidencial. Se eu fosse Dilma, segurava bem a cadeira.
Dali, Temer e Padilha fatiam pragmaticamente cargos de segundo escalão entre PMDB, PP, PTB, PDT e a enorme base aliada, mas rebelde. O anúncio começa semana que vem, reavivando uma velha regra: quem tem a caneta tem o poder.
Padilha, vice-poderoso do vice-presidente, é aquele que recusou o convite (ou convocação?) de Dilma para ser ministro de Relações Institucionais e, portanto, articulador político. Ao dizer "não" à chefe, argumentou que sua mulher, advogada no Rio Grande do Sul e mãe de um bebê, o proibira de aceitar: "ou ela, ou eu". O que pouca gente sabe é que Dilma ligou para a mulher de Padilha e... ela não atendeu. Não atender a um telefonema da presidente da República, chefe do marido? Pois é.
Voltemos a Renan, que, dizem as más-línguas, também se recusou a atender não a um, mas a dois telefonemas da presidente. Sim, o presidente de um Poder mandou o mordomo dizer à presidente do outro Poder que não estava em casa, ou não podia atender, ou qualquer coisa dessas que a gente diz para operadoras de telemarketing e chatos em geral.
Já seria grave, mas o pior é o novo estilo sindicalista de Renan, sempre de megafone em punho. Num dia, ele cobra uma posição da presidente sobre a terceirização de trabalhadores. No outro, diz que "é ridículo" Dilma não fazer o tradicional pronunciamento de 1.º de Maio por causa de panelaços e "porque não tem o que dizer".
Vários fatores incomodam Renan e o empurram para a oposição: o envolvimento na Lava Jato, as dificuldades do filho no governo de Alagoas, perder o Turismo para o PMDB da Câmara, ficar sob a liderança de Temer/Padilha e assistir ao protagonismo de Eduardo Cunha no Congresso. Ele, porém, tem pouco a lucrar batendo de frente com a presidente, com o Planalto e com o próprio partido. Pode até fazer o jogo do PSDB de enfraquecer ainda mais Dilma e o PT, mas nem pode virar tucano a essa altura, nem cairia tão facilmente nas graças do PSDB.
Logo, Renan virou um franco atirador, mirando na testa de Dilma e espalhando estilhaços em Temer, Padilha e Cunha, na contramão do que os atores políticos fazem freneticamente desde que o governo Dilma queimou a largada, mas sem perspectiva de levar a bandeirada do impeachment: todo mundo só pensa em 2018.
Renan, ao contrário, parece desprezar o amanhã e só se concentrar no hoje. Não se encaixa nos diferentes cenários do PSDB e está se inviabilizando tanto no "volta Lula" quanto numa candidatura própria do PMDB ao Planalto. Aparentemente, ele desperdiça sua munição com Dilma, que não significa opção de poder em 2018 e que, se aguentar os próximos quatro anos, já pode se dar por satisfeita.
Educação. No dia do Trabalho, viva aos professores!
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