- Folha de S. Paulo
A luta contra a inflação coloca o Banco Central numa situação extremamente delicada.
Para derrubar os preços e convencer todo mundo de que existe compromisso verdadeiro de colocar as coisas em um nível mais civilizado até o final de 2016, Alexandre Tombini e os diretores do BC deram mais uma pancada nos juros nesta semana e deixaram a porta aberta para outro aperto no final de julho.
O problema é que o remédio contra a inflação alta tem um efeito colateral pesado para a economia, que já encolheu no início deste ano.
O dilema é simples de descrever. Uma solução razoável, entretanto, é complicadíssima de ser encontrada.
Se a escalada dos juros seguir a toada iniciada logo após as eleições presidenciais do ano passado, as chances de o BC entregar o que está prometendo há tempos é grande.
Mas Tombini e seus colegas de diretoria vão acabar sacramentando os cenários mais sombrios sobre o desempenho da economia em 2015.
Ao que tudo indica, o BC vai seguir o caminho escolhido. Petistas e aliados mais à esquerda do Palácio do Planalto colocarão Tombini junto com o ministro Joaquim Levy no topo da lista dos inimigos da família.
O problema é que chegamos nessa situação pelos equívocos cometidos pelo próprio governo petista. O cofre aberto e a leniência com a inflação nos últimos anos são deliberações tomadas pelos mesmos que agora precisam aplicar uma dose cavalar de juros e arrocho fiscal no país.
A única forma de o BC evitar se tornar o algoz do crescimento seria a definição de uma meta menos ambiciosa para a redução da inflação no médio prazo. O mecanismo já foi usado no passado e permitiu ao país colocar a inflação nos trilhos com um custo econômico mais diluído.
Mas para que isso funcionasse, esse ajuste da meta já deveria ter sido definido e anunciado. Além disso, o BC precisaria ter um trunfo na manga que não tem: credibilidade na praça.
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