Jeferson Ribeiro – O Globo
O ditado popular de que não há nada tão ruim que não possa piorar se aplica muito bem ao cenário político em Brasília desde anteontem, quando a Polícia Federal vasculhou o endereço de parlamentares investigados pela Operação Lava-Jato, pondo uma faca no pescoço do Congresso.
O episódio deixa mais tenso o ambiente político e a relação entre os Poderes, mais conturbada desde a inclusão dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) na lista de inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal, na Lava-Jato.
Nesse cenário, há poucas razões para otimismo, de um lado a outro da Praça dos Três Poderes.
A presidente Dilma e seu impopular governo, por exemplo, tendem a ter contra si uma base ainda mais raivosa, Cunha e Renan à frente. Novas CPIs e aprovação de projetos que desequilibrem ainda mais as combalidas contas do governo são reações já dadas como certas.
Por outro lado, é possível que ambos os peemedebistas venham a ser denunciados à Justiça pela Procuradoria-Geral da República, o que poderia transformar em réus os chefes das duas Casas legislativas. Isso sem falar no eventual constrangimento de serem acordados em casa em breve por agentes federais, como aconteceu esta semana com alguns de seus colegas. Nessa hipótese, ambos se enfraqueceriam e se veriam obrigados a concentrar mais esforços em suas próprias defesas e menos na frenética pauta de votações que tem atormentado o governo.
A revelação de que Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, atua com desenvoltura na Corte de contas e, segundo um delator, teria intermediado propina a outro ministro do tribunal (Raimundo Carreiro), também causará impacto. Numa análise simplista, pode beneficiar Dilma, por jogar suspeitas sobre o tribunal que julgará suas contas no mês que vem. Porém, se os ministros considerarem que o governo influenciou a investigação para enfraquecê-los, isso pode se voltar contra a presidente.
Para a oposição, o ambiente político conturbado com Dilma enfraquecida perante um Congresso virulento é, em tese, benéfico. Mas seus adversários sempre poderão lançar mão do argumento de, no STF, também há inquéritos contra seus representantes, embora numa proporção menor.
A analogia que talvez melhor descreva a atual cena política de Brasília é a feita pelo ex-presidente Lula para explicar a situação de Dilma e do PT: estão quase todos no volume morto ou abaixo dele.
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