• Para líderes do PSDB e do DEM, maiores dificuldades são impostas por partidos da base; Cunha afirma que quadro da presidente não muda no Congresso
Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA — A avaliação de líderes da oposição na Câmara e Senado é que nem a publicação de portaria liberando mais uma fatia de recursos para pagamento de emendas parlamentares, nem o prometido apoio dos governadores contra a chamada “pauta bomba” deve facilitar a vida da presidente Dilma Rousseff na volta do recesso, no Congresso, na semana que vem. O efeito prático da reunião da presidente junto aos governadores foi minimizado no Congresso. Os líderes alegam que as maiores dificuldades vêm sendo impostas por partidos da base, sobre os quais os governadores não tem muito poder.
Os próprios representantes estaduais não saíram do encontro satisfeitos com o resultado prático, pois levaram uma pauta de reivindicações e saíram sem garantias de que seriam atendidos. Entre os pedidos estavam a liberação de empréstimos dos bancos oficiais e o uso dos recursos de depósitos judiciais para a retomada de investimentos.
— Na reunião de ontem (quinta-feira) os governadores ouviram conversa para boi dormir e responderam em linguagem de horóscopo. Nada muda — prevê o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Marcus Pestana, do PSDB-MG, declarou que quem tem que segurar “pauta bomba” é a coordenação do governo:
— O PT está querendo ganhar sócios para sua crise, socializando os prejuízos. O governo Dilma não fez o dever de casa, perdeu o controle da situação e essa fragilidade da presidente deixou a base sem condições de conduzir o ajuste — disse tucano.
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também não acredita que os governadores possam mudar o quadro de dificuldades de Dilma no Congresso:
— As necessidades e os pleitos dos governadores são conflitantes com os pleitos da União. A única coisa comum é que tem aumento de despesa aprovado que terá impacto em cascata — avaliou Cunha.
Com o orçamento impositivo, o governo não pode mais discriminar que parlamentar atender, mas os líderes criticam a publicação de uma portaria disciplinando a utilização do Sistema de Gestão de Convênio e Contratos de Repasse do Orçamento (Sicon) às vésperas do fim do recesso. Dilma liberou o pagamento de R$717,4 milhões das emendas liberadas.
— O incêndio é grande demais para se apagar com pingos d’água. O circo já pegou fogo — diz o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).
— O governo fraco e sitiado pela crise econômica e corrupção não reverterá o clima de adversidade no Congresso com ações fisiológicas pontuais — diz o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE).
Os parlamentares reclamam que a ideia do “toma lá, dá cá” só aumenta a irritação da população junto a presidente, e não resolve o problema com o Congresso.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), diz que liberar emendas ou se cercar de governadores irá resolver a falta de credibilidade de Dilma:
— Gestos como esse só fazem irritar a população e desgastar deputados e senadores. E a presidente continua posando de vítima do Congresso alegando que o mesmo está impedindo que ela governe, ameaçando com uma pauta bomba. Essa foi a pauta do encontro com os governadores e muitos caíram no canto das sereias. A classe política está deixando com que ela desvie o foco. Temos que priorizar é o combate à causa da deterioração do quadro politico e econômico com uma nova eleição — criticou Caiado.
— Essa liberação das emendas, com o orçamento impositivo não pode ser vista como um favor. É obrigação. Mas essas notícias de distribuição de cargos e emendas as vésperas do fim do recesso só desgastam o Congresso e os parlamentares. O que parece é que é chantagem, toma lá , dá cá. Muitos parlamentares vão ser prefeitos e não vão trocar alguns recursos por uma parceria com quem tem só 7% de apoio da população — diz o vice-líder do PMDB, Lúcio Vieira Lima (BA).
Presidente do PSDB de Minas Gerais, o deputado Domingos Sávio (MG) diz que o fato de o pagamento das emendas ser impositivo é uma conquista da democracia, e pagá-las é obrigação da presidente Dilma. E, portanto, esta decisão não mudará nenhum voto no congresso.
— Este é o lado bom das emendas impositivas. O governo terá apoio se "merecer apoio". E quem melhor indica este merecimento é a opinião pública. Hoje acredito que o governo só conseguiria reverter a situação que tende a ser desfavorável no congresso se melhorar sua imagem perante o povo que nos congressistas representamos. Mas isso me parece pouco provável dada a incompetência deste governo —disse Domingos Sávio.
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